CARTA AO EDITOR
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Autho(rs): Rodolfo Mendes Queiroz1; Luana Almeida Botter1; Michela Prestes Gomes2; Rafael Gouvêa Gomes e Oliveira1 |
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Sr. Editor,
Homem, 32 anos, branco, atendido de urgência com fortes dores, principalmente no quadrante inferior direito do abdome, apresentando distensão abdominal e vômitos há um dia. Foram realizadas radiografia, ultrassonografia e tomografia computadorizada (TC) abdominais, que demonstraram, em conjunto, distensão de alças intestinais delgadas (Figura 1A) e sinais de invaginação íleo-ileal, associada a nodulação intraluminal contendo componente de tecido adiposo, compatível com a "cabeça de intussuscepção" (Figuras 1B, 1C e 1D). Optou-se pelo tratamento cirúrgico. Figura 1. A: Radiografia mostrando distensão de alças intestinais delgadas com níveis líquidos (cabeça de seta). B: Composição de imagens ultrassonográficas demonstrando uma invaginação da parede intestinal (cabeça de seta) junto a uma nodulação ecogênica intraluminal (seta). C,D: Exame tomográfico contrastado, fase pré-contraste, mostrando o "sinal do alvo" (cabeça de seta), representando uma intussuscepção, adjacente a uma nodulação intraluminal com densidade de gordura (seta). O estudo anatomopatológico, associado à avaliação com imuno-histoquímica, diagnosticaram um angiomiolipoma (AML), conforme segue. Macroscopia: Alça intestinal contendo lesão polipoide submucosa delimitada, não encapsulada, de tecido amarelo claro, medindo 3,0 × 2,5 × 2,3 cm, sem evidências de malignidade. Microscopia: Usada coloração tricrômico de Masson, diagnosticando AML comprometendo toda a parede intestinal desde a serosa até a mucosa. Imuno-histoquímica: Desmina, HHF 35, CD31, CD34, proteína S100, actina músculo liso 1 a 4: positivos. Intussuscepção é a invaginação de um segmento proximal intestinal e sua faixa de mesentério com a vascularização correspondente no lúmen da porção intestinal distal, podendo levar a obstrução, processo inflamatório e isquemia segmentar(1,2). Em adultos, corresponde a cerca de 5% dos casos gerais, dos quais apenas 1% ocasiona obstrução(1). Nesse grupo etário estima-se que em 90% do total dos casos são encontradas causas orgânicas intraluminais, chamadas de "cabeças de intussuscepção" (por exemplo: neoplasias benignas, como o lipoma, ou malignas; pólipos adenomatosos ou de outra natureza; hamartomas) ou extraluminais (por exemplo: aderências, divertículo de Meckel)(1,3). No intestino delgado, a cabeça de intussuscepção é mais comumente associada a lesão benigna, enquanto no cólon existe maior associação com neoplasias malignas primárias ou secundárias(2). O tratamento geralmente é cirúrgico para causas orgânicas, complicações como obstrução e isquemia intestinal(2,3). O quadro clínico da intussuscepção está relacionado com a ocorrência de suboclusão, obstrução e enterorragia(3,4). As intussuscepções são classificadas conforme o segmento intestinal envolvido: entero-entérica, colo-cólica, íleo-cólica e íleocecal(1,3). Os achados radiológicos típicos são: "sinal do alvo" e "sinal do pseudo-rim"(3). A ultrassonografia apresenta acurácia diagnóstica próxima a 98%(2), porém, é dependente da experiência do examinador(5). A TC possui acurácia entre 58% e 100%(5). AMLs são tumores benignos mesenquimatosos contendo células adiposas, musculares lisas, epiteliais e vasculares(4,6-8). Esses e outras lesões, como linfangioleiomiomatose e tumores pulmonares de células claras, foram reunidos sob a classificação de PEComas (perivascular epithelioid cell tumors)(4). A sua prevalência renal é de 0,3% a 3%, onde foi inicialmente descrito na literatura, sendo esporádico em cerca de 80% dos casos, e o restante é associado a linfangioleiomiomatose e principalmente a esclerose tuberosa(6,7). AMLs extrarrenais são extremamente raros, sendo o fígado o sítio mais relatado (algumas outras localizações: coração, pulmão, retroperitônio, mediastino, medula espinhal, mucocutânea, glândulas parótidas, órgãos reprodutores independente do gênero), e sua ocorrência é raramente descrita no trato gastrintestinal(4,6-8)(número próximo de 50 casos)(6,7). O seu diagnóstico radiológico no trato gastrintestinal é difícil em razão da raridade e por se tratar de lesão de natureza adiposa, semelhante aos lipomas, os quais são muito mais frequentes(4,7,8). REFERÊNCIAS 1. Santos FGPL, Pereira JM, Lima RV, et al. Intussuscepção intestinal secundária a tumor do estroma gastrointestinal (GIST). Rev Imagem. 2007;29:147-51. 2. Rosas GQ, Becker GG. Jejuno e íleo. In: D'Ippolito G, Caldana RP, editors. Gastrointestinal. Série CBR. São Paulo, SP: Elsevier; 2011. p. 173-202. 3. Kim YH, Blake MA, Harisinghani MG, et al. Adult intestinal intussusception: CT appearances and identification of a causative lead point. Radiographics. 2006;26:733-44. 4. Miliaras S, Miliaras D. Angiomyolipoma of the jejunum mimicking metastatic disease in a patient with colonic adenocarcinoma. Surgical Science. 2011;2:52-6. 5. Marinis A, Yiallourou A, Samanides L, et al. Intussusception of the bowel in adults: a review. World J Gastroenterol. 2009;15:407-11. 6. Povo A, Oliveira JMS, Silva R, et al. Angiomiolipoma duodenal. Revista Portuguesa de Cirurgia. 2010;14:107-10. 7. Toye LR, Czarnecki LA. CT of a duodenal angiomyolipoma. AJR Am J Roentgenol. 2002;178:92. 8. Lee CH, Kim JH, Yang DH, et al. Ileal angiomyolipoma manifested by small intestinal intussusception. World J Gastroenterol. 2009;15:1398-400. 1. Documenta - Hospital São Francisco, Ribeirão Preto, SP, Brasil 2. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil Endereço para correspondência: Dr. Rodolfo Mendes Queiroz Documenta - Centro Avançado de Diagnóstico por Imagem Rua Bernardino de Campos, 980, Centro Ribeirão Preto, SP, Brasil, 14015-130 E-mail: rod_queiroz@hotmail.com |