RELATO DE CASO
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Autho(rs): Bruno Landim Dutra1; Lenilton da Costa Campos2; Hélder de Castro Marques2; Vagner Moysés Vilela3; Rodolfo Elias Diniz da Silva Carvalho4; André Geraldo da Silva Duque5 |
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Descritores: Síndrome de Ortner; Aneurisma de arco aórtico; Nervo laríngeo recorrente; Disfonia; Tosse seca. |
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Resumo: INTRODUÇÃO
Ortner descreveu, em 1897, a associação entre estenose mitral e rouquidão relacionada a paralisia do nervo laríngeo recorrente esquerdo(1). A síndrome de Ortner, cuja fisiopatologia está relacionada ao comprometimento do nervo laríngeo recorrente entre a aorta e a artéria pulmonar, pode estar presente em outras doenças de origem cardiovascular benigna(1). Neste trabalho descrevemos o caso de uma paciente que apresentou sintomas compatíveis com a síndrome, devido à presença de um aneurisma sacular localizado na parede inferior do arco aórtico determinando a lesão do referido nervo. RELATO DO CASO Paciente do sexo feminino, 55 anos, hipertensa, tabagista 35 anos/maço, apresentando quadro de evolução de quatro meses de disfonia, discreta disfagia e episódios de tosse seca persistente. A videolaringoscopia mostrou paralisia da prega vocal esquerda em posição paramediana (Figura 1). Figura 1. Documentação da videolaringoscopia e corte tomográfico axial em janela de partes moles demonstrando a assimetria das cordas vocais, com sinais de paresia à esquerda. A tomografia computadorizada da região cervical e torácica confirmou os achados da videolaringoscopia (Figura 1) e definiu o diagnóstico ao demonstrar um aneurisma sacular focal na parede inferior do arco aórtico (Figuras 2, 3 e 4), responsável por estirar o nervo laríngeo recorrente esquerdo e causar os sintomas descritos. Figura 2. Reconstrução sagital oblíqua com técnica de projeção de intensidade máxima identificando o aneurisma na parede inferior do arco aórtico, onde habitualmente o nervo laríngeo recorrente margeia este vaso. Figura 3. Reformatações multiplanares com técnica de projeção de intensidade máxima obtendo-se imagens oblíquas demonstrando a relação anatômica entre o arco aórtico, o tronco da artéria pulmonar e o aneurisma projetando-se na janela aortopulmonar. Figura 4. Reconstruções multiplanares em anteroposterior e oblíquas direita e esquerda, utilizando a técnica volume rendering, demonstrando a dilatação focal na parede inferior do arco aórtico (setas). DISCUSSÃO Tosse persistente, disfagia e disfonia podem sugerir paralisia de prega vocal secundária a lesão do nervo laríngeo recorrente. As pregas vocais recebem inervação motora por um ramo do nervo vago, o nervo laríngeo recorrente. À direita, o nervo laríngeo recorrente margeia a superfície inferior da artéria subclávia e, à esquerda, contorna inferiormente o arco aórtico na janela aortopulmonar, ascendendo até a laringe junto ao sulco esôfago-traqueal. Qualquer compressão/estiramento do nervo vago, em sua origem no sulco lateral posterior do bulbo, trajeto na cisterna bulbo-cerebelar, na sua emersão do crânio pelo forame jugular, na bainha da artéria carótida ou adjacente aos locais de deflexão dos nervos laríngeos recorrentes nos vasos acima descritos, pode determinar os sintomas(2). A síndrome de Ortner, também conhecida como síndrome cardiovocal, decorre da compressão do referido nervo secundária a causas cardiovasculares benignas (Tabela 1)(1-3). Outras afecções podem acometer o referido nervo, sem, entretanto, configurar a síndrome(2,4,5). Os achados tomográficos de paralisia das cordas vocais são: espessamento em posição paramediana da prega ariepiglótica ipsilateral, aumento de volume do seio piriforme e ventrículo ipsilaterais, posicionamento anteromedial da cartilagem aritenoide, posição paramediana da corda vocal. No plano coronal, pode-se observar retificação do arco subglótico(2). A confirmação diagnóstica inclui exames endoscópicos da laringe e tomografia computadorizada do crânio, pescoço e tórax. A avaliação tomográfica visa demonstrar, além das alterações laríngeas, a presença de possíveis lesões no trajeto dos nervos vagos e laríngeos recorrentes, desde a base do crânio até a janela aortopulmonar(3,6,7), corroborando o diagnóstico. REFERÊNCIAS 1. Sengupta A, Dubey SP, Chaudhuri D, et al. Ortner's syndrome revisited. J Laryngol Otol. 1998;112:377-9. 2. Paquette CM, Manos DC, Psooy BJ. Unilateral vocal cord paralysis: a review of CT findings, mediastinal causes, and the course of the recurrent laryngeal nerves. Radiographics. 2012;32:721-40. 3. Bickle IC, Kelly BE, Brooker DS. Ortner's syndrome: a radiological diagnosis. Ulster Med J. 2002;71:55-6. 4. Yumoto E, Minoda R, Hyodo M, et al. Causes of recurrent laryngeal nerve paralysis. Auris Nasus Larynx. 2002;29:41-5. 5. Hirose H. Clinical observations on 600 cases of recurrent laryngeal nerve paralysis. Auris Nasus Larynx. 1978;5:39-48. 6. Ishii K, Adachi H, Tsubaki K, et al. Evaluation of recurrent nerve paralysis due to thoracic aortic aneurysm and aneurysm repair. Laryngoscope. 2004;114:2176-81. 7. Chan P, Huang JJ, Yang YJ. Left vocal cord palsy: an unusual presentation of a mycotic aneurysm of the aorta caused by Salmonella cholerasuis. Scand J Infect Dis. 1994;26:219-21. 1. Médico Residente do Serviço de Radiologia e Diagnóstico por Imagem do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF), Juiz de Fora, MG, Brasil 2. Médicos Radiologistas do Serviço de Radiologia e Diagnóstico por Imagem do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF) e do Grupo Alliar, Juiz de Fora, MG, Brasil 3. Médico Radiologista do Serviço de Radiologia e Diagnóstico por Imagem do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF), Juiz de Fora, MG, Brasil 4. Médico Radiologista da CDM Imagem - Centro de Diagnóstico Médico e do Cedim - Centro Diagnóstico em Medicina, São Mateus, ES, Brasil 5. Médico Radiologista da Axial Medicina Diagnóstica, Belo Horizonte, MG, Brasil Endereço para correspondência: Dr. Bruno Landim Dutra Serviço de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, Hospital Universitário - Centro de Atenção à Saúde, Unidade Dom Bosco Avenida Eugênio do Nascimento, s/nº, Dom Bosco Juiz de Fora, MG, Brasil, 36038-330 E-mail: brunolandim@yahoo.com.br Recebido para publicação em 20/6/2013. Aceito, após revisão, em 29/1/2014. Trabalho realizado no Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF), Juiz de Fora, MG, Brasil. |