CARTA AO EDITOR
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Autho(rs): Matheus Silveira Avelar; Orlando Almeida; Beatriz Regina Alvares |
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Sr. Editor,
Paciente feminina, 75 anos, encaminhada com mamografia de rastreamento de outro serviço mostrando microcalcificações pleomórficas agrupadas no quadrante superolateral da mama esquerda, classificadas como achados mamográficos altamente suspeitos (BI-RADS 5). O objetivo do encaminhamento seria o agulhamento guiado por mamografia seguido de biópsia excisional da lesão suspeita. Foi realizada nova mamografia, que revelou nódulo de aspecto benigno, já presente e estável em relação à mamografia prévia, e microcalcificações pleomórficas agrupadas, ambos localizados no quadrante superolateral da mama esquerda. O aspecto das microcalcificações suspeitas chamou a atenção por apresentar grupamento de formato arredondado (Figuras 1A e 1B). Figura 1. A,B: Incidências mediolateral oblíqua e craniocaudal da mama esquerda mostrando nódulo parcialmente calcificado (círculo) e grupamento de microcalcificações pleomórficas (seta) localizado no quadrante superolateral. C,D: Clipe metálico sobre o nevo cutâneo contendo resíduos de talco em suas fissuras e incidência craniocaudal da mama esquerda demonstrando que o grupamento de microcalcificações correspondia aos resíduos de talco. A paciente foi reexaminada, sendo detectado nevo cutâneo de superfície irregular com resíduos de talco aderidos às suas fissuras. Após marcar a lesão descrita com clipe metálico, foi realizada nova incidência que revelou que as microcalcificações observadas eram devidas a artefatos relacionados aos resíduos de talco sobre o nevo cutâneo (Figuras 1C e 1D). Houve reclassificação da mamografia como achados mamográficos benignos (BI-RADS 2) e a paciente foi reencaminhada à rede básica de saúde. O câncer de mama, excetuando-se tumores de pele do tipo não melanoma, é a neoplasia mais frequente e com elevada mortalidade em mulheres no Brasil(1). A mamografia é o principal método de imagem para diagnóstico precoce do câncer de mama e a análise das diferenças entre o tecido mamário normal e os achados suspeitos necessita de um alto padrão na qualidade da imagem para detecção precoce de lesões(2-9). Além disso, a presença de artefatos pode mascarar ou mimetizar o diagnóstico de lesões iniciais, reduzindo a sensibilidade e especificidade do método e levando a condutas inapropriadas. Os artefatos mais comuns ocorrem por fatores relacionados à paciente, à técnica empregada na realização do exame e ao processamento da imagem ou problemas no equipamento(10,11). Os principais artefatos relacionados às pacientes decorrem da dificuldade na mobilização das mamas durante a aquisição das imagens e do uso de substâncias sobre a pele. O caso aqui relatado ilustra a necessidade do rígido controle de qualidade da imagem mamográfica e de correlação com achados clínicos para melhor acurácia diagnóstica. A lesão cutânea observada levou à simulação de grupamento de microcalcificações pleomórficas, o que implicaria a necessidade de biópsia. A busca ativa de prevenção e detecção de artefatos, associada ao constante controle de qualidade dos processos de obtenção, processamento, armazenamento e análise das imagens, reduzem a incidência de erros diagnósticos e os custos, devendo ser o objetivo de toda equipe do serviço de mamografia. REFERÊNCIAS 1. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Estimativas 2012 - Incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro, RJ: INCA; 2011. 2. Pisano ED, Hendrick RE, Yaffe MJ, et al. Diagnostic accuracy of digital versus film mammography: exploratory analysis of selected population subgroups in DMIST. Radiology. 2008;246:376-83. 3. Caldas FAA, Isa HLVR, Trippia AC, et al. Controle de qualidade e artefatos em mamografia. Radiol Bras. 2005;38:295-300. 4. Badan GM, Roveda Júnior D, Ferreira CAP, et al. Auditoria interna completa do serviço de mamografia em uma instituição de referência em imaginologia mamária. Radiol Bras. 2014;47:74-8. 5. Bitencourt AGV, Lima, ENP, Chojniak R, et al. Correlação entre resultado do PET/CT e achados histológicos e imuno-histoquímicos em carcinomas mamários. Radiol Bras. 2014;47:67-73. 6. Rodrigues DCN, Freitas-Junior R, Corrêa RS, et al. Avaliação do desempenho dos centros de diagnóstico na classificação dos laudos mamográficos em rastreamento oportunista do Sistema Único de Saúde (SUS). Radiol Bras. 2013;46:149–55. 7. Coeli GNM, Reis HF, Bertinetti DR, et al. Carcinoma mucinoso da mama: ensaio iconográfico com correlação histopatológica. Radiol Bras. 2013;46:242–6. 8. Pardal RC, Abrantes AFL, Ribeiro LPV, et al. Rastreio de lesões mamárias: estudo comparativo entre a mamografia, ultrassonografia modo-B, elastografia e resultado histológico. Radiol Bras. 2013;46:214–20. 9. Badan GM, Roveda Júnior D, Ferreira CAP, et al. Valores preditivos positivos das categorias 3, 4 e 5 do Breast Imaging Reporting and Data System (BI-RADS®) em lesões mamárias submetidas a biópsia percutânea. Radiol Bras. 2013;46:209–13. 10. Chaloeykitti L, Muttarak M, Ng KH. Artifacts in mammography: way to identify and overcome them. Singapore Med J. 2006;47:634–41. 11. Geiser WR, Haygood TM, Santiago L, et al. Challenges in mammography: Part I, artifacts in digital mammography. AJR Am J Roentgenol. 2011;197:1023–30. Departamento de Radiologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM-Unicamp), Campinas, SP, Brasil Endereço para correspondência: Dr. Matheus Silveira Avelar Rua Hermantino Coelho, 299, ap. 114A, Bairro Mansões Santo Antônio Campinas, SP, Brasil, 13087-500 E-mail: avelarmatheus@ig.com.br |