EDITORIAL
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Autho(rs): Marcelo Bordalo Rodrigues |
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As infecções "tropicais" são aquelas tipicamente encontradas na região delimitada pelos trópicos de Câncer e Capricórnio. Ao fazermos uma pesquisa mais detalhada, observamos que, no passado, estas infecções eram encontradas em zonas temperadas como na Europa e nos Estados Unidos, citando como exemplos a "peste negra", que acometeu a Europa medieval, e também a ancilostomose e a malária, no início do século XX, nos Estados Unidos(1). É importante notar que estas infecções não eram relacionadas às condições climáticas e, sim, às más condições sanitárias, de higiene, educacionais e ao difícil acesso às medicações nestas épocas passadas.
O termo "infecção tropical" foi consagrado nos tempos atuais, pois a maioria dos países em desenvolvimento e os países mais pobres do globo estão localizados na zona tropical. Estes países têm dificuldades variáveis nas condições gerais da população, como higiene, educação e acesso à saúde, sendo, portanto, mais comum o desenvolvimento destas infecções, com maior morbimortalidade relacionada. O diagnóstico por imagem é um instrumento importante no atendimento primário e no diagnóstico específico das infecções tropicais, especialmente no que se refere ao grau de comprometimento dos órgãos alvos. Esta é outra importante discussão relacionada aos "países tropicais", onde o acesso a equipamentos por imagem é restrito ou em condições inapropriadas(2). Desta forma, as conclusões diagnósticas também ficam comprometidas. A paracoccidioidomicose é uma infecção típica do nosso país, sendo endêmica nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste(1,3). Sua manifestação clássica é o acometimento pulmonar. O comprometimento musculoesquelético pelo Paracoccidioides brasiliensis é raro, observando-se alguns relatos de casos na literatura(1,4-6). Não existem, no entanto, estudos originais abordando esta forma específica de micose óssea. Fazendo um mea culpa, este "vazio" na literatura é grande responsabilidade nossa, dos pesquisadores brasileiros, por se tratar de uma doença muito mais comum no Brasil. Na edição passada da Radiologia Brasileira, Lima Júnior et al.(7) preencheram este "vazio" e publicaram um interessante estudo descrevendo os achados por tomografia computadorizada da paracoccidioidomicose no sistema musculoesquelético. Os autores demonstraram que a doença se manifesta por lesões líticas ósseas únicas ou múltiplas, bem definidas, com fino halo esclerótico, acometendo preferencialmente o esqueleto apendicular. O sequestro ósseo não foi um achado frequente e a maioria dos pacientes apresentava-se sintomática do ponto de vista osteoarticular. Propõem também que a presença destas lesões à tomografia computadorizada em pacientes que residem ou estiveram em zonas endêmicas deva fazer com que se inclua a paracoccidioidomicose no diagnóstico diferencial das lesões líticas ósseas. Que este estudo seja apenas o primeiro a abordar os aspectos por imagem de uma condição que, apesar de rara, é típica e endêmica em nosso país, com o intuito de termos uma melhor compreensão e fazermos diagnósticos mais precisos. REFERÊNCIAS 1. Peh WCG. Tropical and unusual infections of the musculoskeletal system. Semin Musculoskelet Radiol. 2011;15:439-40. 2. Ng KH, McLean ID. Diagnostic radiology in the tropics: technical considerations. Semin Musculoskelet Radiol. 2011;15:441-5. 3. Shikanai-Yasuda MA, Telles Filho FQ, Mendes RP, et al. Consenso em paracoccidioidomicose. Rev Soc Bras Med Trop. 2006;39:297-310. 4. Marchiori E, Dalston M, Zanetti G, et al. Paracoccidioidomycosis: another cause of sternal osteomyelitis. Joint Bone Spine. 2012;79:323-4. 5. Valera ET, Mori BM, Engel EE, et al. Fungal infection by Paracoccidioides brasiliensis mimicking bone tumor. Pediatr Blood Cancer. 2008;50:1284-6. 6. de Freitas RS, Dantas KC, Garcia RS, et al. Paracoccidioides brasiliensis causing a rib lesion in an adult AIDS patient. Hum Pathol. 2010;41:1350-4. 7. Lima Júnior FVA, Savarese LG, Monsignore LM, et al. Aspectos de imagem da paracoccidioidomicose osteoarticular na avaliação por tomografia computadorizada. Radiol Bras. 2015;48:1-6. Médico Responsável pela Radiologia Músculo-Esquelética do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InRad/HC-FMUSP), Médico Coordenador da Radiologia Músculo-Esquelética do Hospital Sírio-Libanês. E-mail: bordalo.m@gmail.com |