CARTA AO EDITOR
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Autho(rs): Marcelo Mantiolhe Martins1; Flavia Angelica Ferreira Francisco1; Rafael Alfenas de Paula1; Daniella Braz Parente2 |
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Sr. Editor,
Paciente do sexo masculino, 52 anos, previamente hígido, com queixa de paraparesia progressiva dos membros inferiores com quatro meses de evolução e início recente de incontinência urinária, sem história de trauma local. Na admissão o paciente estava afebril e ao exame físico apresentava paraparesia espástica com nível sensitivo em D8. Os exames laboratoriais (hemograma e bioquímica) não mostraram alterações significativas. A ressonância magnética (RM) exibia lesão alongada, de contorno regular, com sinal intermediário em T1, marcado hipersinal em T2, com realce intenso e homogêneo pelo meio de contraste, localizada no espaço epidural, estendendo-se de D5 a D7. A lesão determinava importante redução da amplitude do canal raquiano e compressão medular nos segmentos correspondentes, com consequente hipersinal medular em T2 e em STIR, por mielopatia compressiva (Figura 1). Figura 1. Imagens de RM adquiridas no plano sagital ponderadas em T1 (A), T2 (B), STIR (C) e T1 com saturação de gordura após administração intravenosa do meio de contraste (D) demonstram lesão expansiva alongada, de contorno regular e limites precisos, localizada no espaço epidural da região posterior da coluna dorsal, estendendo-se de D5 a D7. A lesão apresenta sinal intermediário em T1, marcado hipersinal em T2 e em STIR, com realce intenso e homogêneo pelo meio de contraste, sugerindo hemangioma. Este tumor reduz acentuadamente a amplitude do canal raquiano, determinando sinal elevado na medula espinhal em correspondência (mais bem visualizado em STIR), por mielopatia compressiva. O paciente foi submetido a procedimento cirúrgico, em que foi observada lesão vinhosa epidural que determinava compressão sobre o saco dural. Houve ressecção completa da lesão, sem complicações significativas. Ao exame anatomopatológico foi demonstrada proliferação de vasos de médio porte preenchidos por sangue, sem atipias, compatível com hemangioma cavernoso. Os hemangiomas são lesões vasculares proliferativas benignas. Segundo o tipo predominante de canal vascular, os hemangiomas são classificados como: venoso, arteriovenoso, capilar e cavernoso(1). O hemangioma puramente epidural é uma lesão rara, representando apenas 4% das lesões epidurais, sendo o subtipo cavernoso o mais comum nesta região(1). A lesão localiza-se na região posterior da coluna em até 93% dos casos e a coluna dorsal é acometida em 80% dos casos(2). O hemangioma cavernoso epidural é mais comum em homens, com relação de 2:1, em pacientes com idade superior a 40 anos(2). O acometimento vertebral intraósseo é frequente, com prevalência de 11%(3). O quadro clínico é de dor dorsal ou lombar, com sinais de radiculopatia e mielopatia, sendo o paciente referido para exame de imagem por suspeita de hérnia discal. A apresentação clínica é comumente insidiosa, mas pode haver deterioração clínica aguda por aumento repentino do volume da lesão, decorrente de hemorragia ou oclusão venosa(4). Como a lesão é altamente vascularizada, a suspeição deste diagnóstico é importante para programação operatória, reduzindo as chances de sangramento durante o procedimento. Sua ressecção incompleta, decorrente de sangramento, pode levar à manutenção dos sintomas clínicos, sendo a reabordagem cirúrgica de difícil execução em razão das aderências locais(1,4). Os hemangiomas epidurais são descritos como lesões alongadas e lobuladas, podendo exibir características de imagem distintas dependendo do subtipo. Os hemangiomas venosos e os arteriovenosos apresentam-se como massas císticas, geralmente com hipossinal ou sinal intermediário em T1 e marcado hipersinal em T2, com realce periférico pelo meio de contraste. Os hemangiomas capilares e cavernosos aparecem como massas sólidas, com hipossinal ou sinal intermediário em T1, marcado hipersinal em T2 e intenso realce pelo meio de contraste(1,4-6). Os principais diagnósticos diferenciais dos hemangiomas epidurais incluem tumores da bainha nervosa, meningioma, linfoma, abscesso e hematoma extradural(1,6-8). Em conclusão, o hemangioma cavernoso deve ser considerado no diagnóstico diferencial de lesão epidural com hipersinal em T2 e realce proeminente pelo meio de contraste, principalmente quando acomete a região posterior da coluna dorsal. REFERÊNCIAS 1. Lee JW, Cho EY, Hong SH, et al. Spinal epidural hemangiomas: various types of MR imaging features with histopathologic correlation. AJNR Am J Neuroradiol. 2007;28:1242-8. 2. Aoyagi N, Kojima K, Kasai H. Review of spinal epidural cavernous hemangioma. Neurol Med Chir (Tokyo). 2003;43:471-5. 3. Castro DG, Lima, RP, Maia MAC, et al. Hemangioma vertebral sintomático tratado exclusivamente com radioterapia exclusiva: relato de caso e revisão da literatura. Radiol Bras. 2002;35:179-81. 4. Sanghvi D, Munshi M, Kulkarni B, et al. Dorsal spinal epidural cavernous hemangioma. J Craniovertebr Junction Spine. 2010;1:122-5. 5. Rovira A, Rovira A, Capellades J, et al. Lumbar extradural hemangiomas: report of three cases. AJNR Am J Neuroradiol. 1999;20:27-31. 6. Shin JH, Lee HK, Rhim SC, et al. Spinal epidural cavernous hemangioma: MR findings. J Comput Assist Tomogr. 2001;25:257-61. 7. Atlas SW. Magnetic resonance imaging of the brain and spine. 4th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2008. 8. El Khamary SM, Alorainy IA. Case 100: spinal epidural meningioma. Radiology. 2006;241:614-7. 1. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil 2. Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino, Rio de Janeiro, RJ, Brasil Endereço para correspondência: Dr. Marcelo Mantiolhe Martins Rua Francisco Otaviano, 23/802, Copacabana Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 22080-040 E-mail: marcelomantiolhe@hotmail.com |