EDITORIAL
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Autho(rs): Luiz Felipe Nobre1; Aldo von Wangenheim2 |
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Nos últimos 15 anos, uma infinidade de ferramentas gratuitas de visualização e armazenamento de imagens radiológicas digitais tem surgido, desde a publicação do primeiro servidor/visualizador DICOM livre, o Central Test Node (CTN), em 1994.
Em seu excelente artigo publicado neste número da Radiologia Brasileira, Barra et al.(1) dão uma noção concreta desses programas, apresentando uma análise sistemática de vários visualizadores DICOM que podem, a princípio, funcionar como estações de trabalho radiológicas simples. A lista de aplicações fornecidas gratuitamente, porém, vai muito além, desde Sistemas de Informação Hospitalar (HIS), como o Medical-BR, um HIS com Registro Eletrônico de Saúde (RES) disponível no Portal de Software Público Brasileiro(2), até complexos Sistemas de Arquivamento e Comunicação de Imagens (PACS), como conQuest, PacsOne, OFFIS DCMTK ou mesmo a versão atual do CTN (hoje parte do pacote Linux DebianMed). Vale aqui estabelecer uma diferença entre software livre e freeware: o primeiro é disponibilizado com código-fonte aberto em servidores nacionais(2) ou internacionais(3) e pode ser modificado após baixado da rede, além de possuir uma comunidade de desenvolvedores espalhada pelo mundo que garantem um certo padrão de qualidade e proveem suporte. O segundo é um produto fechado, distribuído gratuitamente, mas sem possibilidade de adaptações pelos usuários, dificultando, por exemplo, sua utilização por um administrador de rede de uma clínica radiológica que queira configurar o sistema de acordo com as necessidades locais. Muitas ferramentas para o radiologista, infelizmente, ainda são apenas freeware. No caso dos visualisadores DICOM gratuitos, consideramos importante complementar sucintamente as informações do artigo publicado neste número da Revista, com algumas noções sobre a integração destes com as demais ferramentas livres citadas acima, de acordo com a complexidade do sistema que se pretende utilizar. Para o radiologista que trabalha no contexto de uma clínica ou hospital que ainda não estão informatizados, importante é considerar duas aplicações: o PACS e a estação de trabalho radiológica. O PACS é a aplicação mais crítica e que, se não funcionar, pode paralisar toda a rotina de trabalho do setor. A razão é que servidores PACS DICOM gratuitos geralmente baseiam-se em bancos de dados também gratuitos, como mySQL, miniSQL ou PostgreSQL. Este banco de dados gratuito é uma ferramenta genérica e não foi necessariamente desenvolvido para o armazenamento e recuperação de grandes quantidades de imagens, uma tarefa que exige um banco de dados muito robusto. Se o usuário é uma pequena clínica, provavelmente quase todos os PACS gratuitos o atenderão, mas se a finalidade for informatizar o setor de radiologia de um hospital de maior porte, a situação pode ficar crítica. Nos 18 anos em que trabalhamos com imagens médicas tivemos oportunidade de testar inúmeras soluções. Neste contexto, o PostgreSQL se mostrou uma feliz exceção: o PACS do STT – Sistema Catarinense de Telemedicina e Telessaúde(4) – hoje fornece resultados de mais de 20.000 exames mensais a 259 dos 293 municípios catarinenses, conectando 193 instituições que realizam envio de exames a uma única instância do CyclopsDICOMServer, servidor de imagens desenvolvido na Universidade Federal de Santa Catarina, e que utiliza PostgreSQL como mecanismo de armazenamento especialmente montado para isto junto ao POP-SC (ponto de convergência da internet em Santa Catarina). Por outro lado, se o objetivo for laudar numa estação de trabalho radiológica e ver estes laudos transferidos automaticamente para um Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), o usuário deve escolher um PACS livre que suporte textos de laudo, preferencialmente um que suporte o padrão de laudo DICOM Structured Report (DICOM SR), e procurar o fornecedor do sistema de informatização de sua clínica para que implemente a transferência automática de laudos ao seu sistema de prontuário. Para conectar o serviço centralizado de telerradiologia do STT/ SC aos HIS distribuídos nos diversos hospitais da rede pública do Estado de Santa Catarina, por exemplo, tivemos de desenvolver uma solução de troca de agendamentos e laudos na rede usando o padrão DICOM Worklist em conjunto com o consórcio de empresas fornecedoras do HIS estadual. Com certeza o leque de opções gratuitas só se ampliará nos próximos anos. O Grupo Cyclops(5), por exemplo, está analisando disponibilizar uma versão genérica de seu PACS e do Portal de Telerradiologia de Santa Catarina no Portal de Software Público Brasileiro para 2011. Uma coisa, porém, é certa: software livre oferece grandes possibilidades de trabalho e desenvolvimento e, quando bem utilizado, pode representar um aumento enorme de produtividade e uma grande redução de custos. Entretanto, é fundamental considerar que estes programas, em contínuo desenvolvimento, e exatamente pelo fato de não serem produtos comerciais, vêm sem as garantias de qualidade padrão, e também sem as facilidades de manutenção programada, fazendo-se extremamente importante assessorar-se por um informata experiente ao optar-se por sua utilização. REFERÊNCIAS 1. Barra FR, Barra RR, Barra Sobrinho A. Visualizadores de imagens médicas gratuitos: é possível trabalhar apenas com eles? Radiol Bras. 2010;43:313–8. 2. Portal do Software Público Brasileiro. [acessado em 3 de outubro de 2010]. Disponível em: http://www.softwarepublico.gov.br/ 3. SourceForge.net: download and develop open source software for free. [acessado em 3 de outubro de 2010]. Disponível em: http://sourceforge.net/ 4. Sistema Catarinense de Telemedicina e Telessaúde. [acessado em 3 de outubro de 2010]. Disponível em: https://www.telemedicina.ufsc.br/rctm 5. The Cyclops Group. [acessado em 3 de outubro de 2010]. Disponível em: http://cyclops.telemedicina.ufsc.br/ 1. Doutor, Médico Radiologista, Professor Adjunto de Radiologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Coordenador de Telemedicina do STT – Serviço Integrado de Telemedicina e Telessaúde, SES/SC – Secretaria da Saúde do Estado de Santa Catarina. E-mail: luizfelipenobresc@gmail.com 2. Doutor, Professor Adjunto de Ciências da Computação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Coordenador Geral do INCoD – Instituto Nacional para Convergência Digital, Grupo Cyclops/Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: awangenh@inf.ufsc.br |