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RELATOS DE CASOS
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Autho(rs): Roger Klein Moreira, Daniela Koppe, Marlon Cesar Marconato, Juliana Machado Zignani, Marcelo de Abreu, Letícia H. Pitrez, Carlos Horácio Genro, Álvaro Porto Alegre Furtado |
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Descritores: Hidatidose. Cisto hidático. Pulmão. Tomografia computadorizada. |
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Resumo: INTRODUÇÃO A hidatidose é uma doença parasitária endêmica em vários países, inclusive na Região Sul do Brasil(1-3). Ela é causada pela forma larval da tênia Echinococcus granulosus(4-6) e caracteriza-se pelo desenvolvimento de cistos de dimensões variáveis, localizados mais freqüentemente no fígado e nos pulmões, embora possa haver acometimento de outros órgãos(1,7-9). Apesar de não haver consenso sobre o que vem a ser um cisto hidático gigante, alguns autores o definem como lesão com mais de 10 cm de diâmetro, ainda que cistos com mais de 6 cm sejam raramente observados(5,8). Relatamos o caso de um paciente de 55 anos de idade, com um cisto hidático pulmonar gigante.
RELATO DO CASO Paciente do sexo masculino, 55 anos de idade, branco, procedente de São Gabriel, RS, procurou atendimento hospitalar com queixa de tosse seca e emagrecimento de 12 kg, iniciados há cerca de quatro meses. Negava outros sintomas. Foi realizado raio-X simples de tórax, que mostrou lesão cavitária no lobo inferior do pulmão esquerdo, de paredes moderadamente espessas, com nível hidroaéreo (Figuras 1 e 2). Frente à suspeita de cisto hidático pulmonar, foi feita tomografia computadorizada (TC) de tórax, que evidenciou área cística, de pelo menos 12 × 7 cm, no lobo inferior esquerdo, de paredes predominantemente finas, porém com áreas de espessamento e irregularidade focal.
A lesão apresentou, conforme se observou no estudo evolutivo, comunicação brônquica, com drenagem parcial das secreções, constatando-se formação de nível hidroaéreo com o conteúdo líquido remanescente (Figura 3). A lesão observada na TC de tórax foi considerada compatível com a suspeita clínica de cisto hidático com comunicação brônquica do endocisto e com colapso subtotal da membrana.
O paciente foi, posteriormente, submetido a lobectomia inferior esquerda, tendo apresentado boa evolução clínica. O estudo anatomopatológico demonstrou a presença de membrana hidática com marcada reação inflamatória pericística supurativa, confirmando, dessa maneira, o diagnóstico de cisto hidático pulmonar.
DISCUSSÃO A hidatidose é uma doença parasitária com alta prevalência em várias regiões do mundo, inclusive na Região Sul do Brasil(1). É causada pela forma larval da tênia Echinococcus granulosus, que tem como hospedeiro definitivo cães e outros carnívoros. Ovelhas e outros herbívoros constituem os principais hospedeiros intermediários(4). Eventualmente, seres humanos também se tornam hospedeiros intermediários, pela ingestão acidental dos ovos da tênia(4,5,10). Os órgãos mais freqüentemente acometidos são o fígado e os pulmões. O envolvimento hepático é o mais comumente observado, com freqüência de 60% a 70%, seguido pelos pulmões, envolvidos em 20% a 30% dos casos(3). Acometimento de outros sítios, como fêmur, cérebro, órbita, coluna vertebral, antebraço(3), tireóide, glândulas salivares(6), bolsa escrotal(7,11), mediastino(1), peritônio, baço, parede torácica, pelve e pâncreas(9), é relatado com menor freqüência. O tamanho atingido pelos cistos tem relação com o sítio acometido. O tecido hepático, por ser mais compacto e delimitado por cápsula, impede que os cistos atinjam grandes dimensões. O parênquima pulmonar, porém, por ser um tecido com baixa resistência, possibilita que os cistos desenvolvam tamanhos maiores. Indivíduos jovens, por possuírem maior elasticidade pulmonar, mais freqüentemente desenvolvem cistos gigantes. De modo geral, cistos maiores que 6 cm são raramente observados(8). A hidatidose pulmonar, mais freqüentemente, pode apresentar-se, radiologicamente, como lesões densas e esféricas, com contornos regulares. Em alguns casos, pode-se observar uma imagem ondulante na interface hidroaérea, produzida pela membrana hidática flutuando sobre o líquido no interior do cisto, que constitui o sinal do camalote, característico da hidatidose pulmonar. Este sinal, contudo, é visto somente em uma pequena parte dos casos. Burgos et al. observaram membrana ondulante em apenas dez dos 331 casos estudados. Outros padrões radiológicos relatados por eles foram derrames pleurais, opacidades difusas e opacificação completa de hemitórax(9). Níveis hidroaéreos ocorrem principalmente em casos de cistos hidáticos complicados, podendo o líquido ter densidade igual ou superior à da água na TC(8).
REFERÊNCIAS 1. Karnak I, Ciftci AO, Tanyel FC. Hydatid cyst: an unusual etiology for a cystic lesion of the posterior mediastinum. J Pediatr Surg 1998;33:759-60. [ ] 2. Taisna JA. Surgical treatment of hydatid cysts of the lung in two hundred cases. J Int Coll Surg 1957;27:92-100. [ ] 3. Wolcott MW, Harris SH, Briggs JN, Dobell ARC, Brown RK. Hydatid disease of the lung. J Thorac Cardiovasc Surg 1971;62:465-9. [ ] 4. Lamy AL, Cameron BH, LeBlanc JG, et al. Giant hydatid lung cysts in the Canadian northwest: outcome of conservative treatment in three children. J Pediatr Surg 1993;28:1140-3. [ ] 5. Barret NR, Thomas D. Pulmonary hydatid disease. Br J Surg 1952;40:222-44. [ ] 6. Gürses N, Baysal K, Gürses N. Hydatid cyst in the thyroid and submandibular salivary glands in a child. Z Kinderchir 1986;41:362-3. [ ] 7. Halim A, Vaezzadeh K. Hydatid disease of the genitourinary tract. Br J Urol 1980;52:75-8. [ ] 8. Halezeroglu S, Celik M, Uysal A, Senol C, Keles M, Arman B. Giant hydatid cysts of the lung. J Thorac Cardiovasc Surg 1997;113:712-7. [ ] 9. Burgos L, Baquerizo A, Muñoz W, et al. Experience in the surgical treatment of 331 patients with pulmonary hydatidosis. J Thorac Cardiovasc Surg 1991;102: 427-30. [ ] 10. Hankins J, Dutz W, Kohout E. Surgical treatment of ruptured and unruptured hydatid cysts of the lung. Ann Surg 1968;167:336-41. [ ] 11. Kizilcan F, Tanyel FC, Büyükpamukçu N, et al. Hydatid disease presenting as an intrascrotal mass in a child. Turk J Pediatr 1991;33:245-6. [ ]
* Trabalho realizado no Serviço de Radiologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Porto Alegre, RS. |