RELATO DE CASO
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Autho(rs): Ledison Ferreira Zanini, Alexandre Tonelli Faria, Robertson Correia Bernardo, Renata Furletti Diniz, Emília Guerra Pinto Coelho Motta, Wanderval Moreira |
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Descritores: Malformação vascular, Artéria carótida interna, Anomalias congênitas, Osso temporal |
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Resumo:
INTRODUÇÃO
A artéria carótida interna aberrante (ACIA) é entidade rara, representada por uma passagem de fluxo sanguíneo pelas artérias carótico-timpânicas e timpânica inferior anastomosadas à artéria hióidea. Seu trajeto é possibilitado pela deiscência do platô carotídeo(1). Os achados de ressonância magnética (RM) e tomografia computadorizada (TC) são decisivos para definir o diagnóstico e programar a conduta, que, comumente, é de suporte(2). O diagnóstico diferencial se faz com o paraganglioma e o colesteatoma, que têm abordagem clínico-terapêutica diferente(3). Relato do caso Paciente A.M.D., de 28 anos de idade, sexo feminino, apresentou episódio de otalgia intensa e tinidos pulsáteis à esquerda por 48 horas, há um ano e quatro meses. Procurou assistência médica, obtendo melhora do quadro clínico com medicação sintomática. À otoscopia observou-se massa violácea e pulsátil retrotimpânica. A TC e a RM mostraram achados característicos de ACIA. A paciente permanece assintomática, exercendo suas atividades sem limitação, com controle médico periódico.
DISCUSSÃO A ACIA é entidade rara que se manifesta devido à regressão da porção vertical da artéria carótida interna durante a embriogênese(1). Há então passagem do fluxo sanguíneo pelas artérias carótico-timpânicas e timpânica inferior, que estão com o diâmetro aumentado e se anastomosam formando a artéria hióidea(4). O seu trajeto passa pelo canalículo timpânico inferior, posteriormente ao segmento vertical involuído da artéria carótida interna (ACI), cruza anteriormente o promontório coclear para unir-se ao canal carotídeo horizontal através de deiscência do platô carotídeo(5) (Figuras 1 e 2).
A maioria dos pacientes é assintomática, e quando os sintomas se manifestam o fazem de forma branda, com perda auditiva condutiva e otalgia(6). Frente aos achados clínicos, deve-se fazer o diagnóstico diferencial com o paraganglioma e o colesteatoma(3). Para esclarecimento diagnóstico desta anomalia utiliza-se a TC, que reconhece os achados característicos, demonstrando massa com densidade de partes moles, semelhante ao glômus timpânico, localizada ântero-lateralmente ao promontório coclear, de contornos bem definidos, e que se impregna pelo meio de contraste. Associado a estes achados nota-se ausência do segmento vertical da ACI (Figuras 3, 4, 5 e 6).
Na RM convencional a ausência de sinal da ACIA confunde-se com a ausência de sinal do osso temporal adjacente, não sendo, portanto, um método esclarecedor. Entretanto, a angiorressonância demonstra os achados característicos da ACIA, evidenciando nitidamente a artéria hióidea em comunicação com o ramo horizontal da ACI, bem como a agenesia do ramo vertical da ACI (Figuras 7 e 8).
Devido a erros diagnósticos que acarretam severas conseqüências clínicas, deve-se utilizar a angiorressonância na investigação de ACIA. Apesar de não ser necessária para o diagnóstico desta anomalia, a angiografia convencional demonstra achados característicos desta patologia(2).
CONCLUSÃO Ressalta-se a importância dos exames de imagem nos casos de ACIA, pois, apesar de ser entidade rara, com sintomas brandos e que não requer tratamento específico, é muito importante fazer o diagnóstico diferencial com o paraganglioma e o colesteatoma, pois o erro diagnóstico clínico-radiológico, levando à intervenção cirúrgica, tem conseqüências desastrosas.
REFERÊNCIAS 1.Swartz JD, Harnsberger HR. Temporal bone ¾ vascular anatomy, anomalies and diseases. In: Harnsberger HR, ed. Imaging of the temporal bone. 3rd ed. New York: Thieme, 1998:188¾95. [ ] 2.Som PM, Curtin HD. Vascular tinitus. In: Hugh DC, ed. Head and neck imaging. 3rd ed. St. Louis: Mosby, 1996:1539. [ ] 3.Valvassori GE, Mafee MF, Carter BL. Congenital abnormalities of temporal bone. In: Georg TV, ed. Imaging of the head and neck. 1st ed. New York: Thieme, 1995:54¾6. [ ] 4.Yousem DM. The temporal bone. Radiol Clin North Am 1998;36:833¾5. [ ] 5.Latchaw RE. Temporal bone. In: James DR, ed. RM and CT imaging of the head, neck and spine. 2nd ed. St. Louis: Mosby, 1991:909¾10. [ ] 6.Encicl Méd Chir (Paris, France). Radiodiagnostic 11, 31675 B10, 6-1998. [ ]
* Trabalho realizado no Hospital Mater Dei, Belo Horizonte, MG. |