ARTIGO ORIGINAL
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Autho(rs): Mauro M. da Fonseca, Hugo R. Schelin, Otília D. Barbosa, João Tilly, Rosângela R. Jakubiak |
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Descritores: Radiologia, Controle de qualidade, "Software" |
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Resumo:
INTRODUÇÃO
Dentro de sua área de atuação, mediante ações de promoção, proteção e recuperação da saúde integradamente entre as atividades assistenciais e preventivas, o Ministério da Saúde estabeleceu, em 1º de junho de 1998, por intermédio da Portaria nº 453, um conjunto de diretrizes para que os serviços de radiologia alcancem um grau aceitável de segurança e qualidade(1). Para atingir esses objetivos a Portaria estabelece a necessidade de um programa de garantia de qualidade em radiologia. Este programa requer o atendimento de uma série de itens relacionados com a precisão e constância dos equipamentos geradores de raios X, assim como relacionados com os procedimentos de trabalho, detalhados em seus quase 150 itens(2). É exigido um sistema de assentamento dos dados de cada procedimento radiológico realizado, tais como data, identificação do paciente e suas características físicas, indicação clínica do exame, técnica radiográfica e quantidade de filmes utilizados, entre outros, e também tempo de fluoroscopia e número de cortes de tomografia computadorizada, além de testes nos aparelhos radiológicos e sistema de processamento de filmes. Os resultados dos testes exigidos na Portaria devem estar registrados para serem comparados aos padrões de desempenho especificados. Destacam-se os seguintes testes: exatidão da tensão de pico (kVp), exatidão do tempo de exposição, exatidão do sistema de colimação, rendimento do tubo, sensitometria do sistema de processamento, além de testes específicos para fluoroscopia, tomografia computadorizada e mamografia. O controle ocupacional, contendo o histórico dosimétrico de cada indivíduo ocupacionalmente exposto e de todas as ocorrências relativas à monitoração individual, deve, também, estar assentado. É exigido o assentamento dos treinamentos realizados dos levantamentos radiométricos. Estes assentamentos demandam organização na coleta e transmissão desses dados. Neste trabalho é apresentado um programa computacional para atendimento das exigências da Portaria nº 453, elaborado e implementado experimentalmente no Hospital São Vicente de Paulo, Passo Fundo, RS, chamado de Sistema Radiológico, que tem por finalidade sistematizar a aquisição e o manejo dos dados coletados nesses assentamentos.
MATERIAIS E MÉTODOS A Portaria do Ministério da Saúde exige que seja estabelecido um sistema de controle baseado na coleta, comparação e assentamento organizados de um enorme volume de dados. Para que este sistema de controle seja eficiente, foi testada no Hospital São Vicente de Paulo uma metodologia baseada no levantamento, registro e análise dos dados de um serviço de radiologia de médio porte, utilizando ferramentas de computação padrão Windows(3), através da elaboração de um programa computacional, chamado de Sistema Radiológico, capaz de fazer a supervisão do serviço técnico a partir do serviço administrativo, levando-se em conta os conceitos e exigências da Portaria. Para fins da elaboração do programa computacional, o serviço de radiologia foi analisado como sendo composto por um setor administrativo e um setor técnico. O setor administrativo executa as funções de registro e encaminhamento, enquanto o setor técnico é o responsável pela realização dos exames. Foram identificadas diversas tarefas do setor administrativo relacionadas às exigências da Portaria nº 453, tais como registro do paciente, anotações referentes ao pedido de exame (dados clínicos e hipóteses diagnósticas), entre outras. No setor técnico o responsável pela realização do exame recebe o paciente, reúne os materiais necessários, posiciona o paciente, ajusta o equipamento, define a técnica radiográfica, efetua o exame, encaminha o(s) filme(s) para revelação, libera o paciente, efetua as anotações referentes ao exame realizado. A entrada de informações no Sistema Radiológico ocorre, inicialmente, na recepção do paciente, quando são registrados os seus dados e os do exame solicitado. Então, um formulário com essas informações é impresso e encaminhado para o técnico realizar o exame e anotar as informações sobre os parâmetros radiográficos utilizados. Após o exame ser realizado, o laudo do médico radiologista é escrito no verso do formulário impresso. Os elementos constantes do formulário são então informados ao Sistema. O Sistema Radiológico permite a pesquisa e a comparação das informações de maneira organizada, criteriosa e rápida, com a apresentação de resultados na tela do computador ou por meio de relatórios impressos, possibilitando a emissão, para o Serviço de Medicina do Trabalho, de um relatório de ultrapassagens de doses, e para a Vigilância Sanitária, das informações pertinentes. Para tanto, a partir de um "menu" principal é possível acessar as opções Agenda, Editar, Paciente Internado, Paciente Ambulatorial, Registros, Vigilância Sanitária, Controle Metrológico, Relatórios e Ajuda, conforme mostrado na Figura 1.
O acionamento da opção Controle Metrológico no "menu" principal abre uma caixa tipo "drop down" que permite selecionar as opções Raios X, Processadora, Câmara Escura e Dosimetria, que estão dispostas em forma de fichário para melhor visibilização. As medidas das características técnicas e de desempenho são primeiramente registradas em formulários de papel para posterior registro nos fichários correspondentes do Sistema na opção Controle Metrológico. Os procedimentos de medidas seguiram o protocolo da Associação Brasileira de Física Médica(4), em conformidade com a Portaria nº 453, e foram executadas com o assessoramento de especialistas em física médica do Departamento de Física do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (Dafis/Cefet-PR). Constaram de medidas da tensão de pico, do tempo de exposição, da camada semi-redutora, da dose absorvida no ar por unidade de mAs, da reprodutibilidade da exposição e complementares (integridade dos acessórios e vestimentas de proteção individual; contato tela-filme; alinhamento da grade; integridade das telas e chassis; condições dos negatoscópios; alinhamento do eixo central do feixe de raios X; entre outras). Para exemplificar, a Figura 2 mostra o formulário Erro kVp na opção Raios X.
As outras seleções da opção Controle Metrológico são: Medidas na Câmara Escura (avaliação da entrada de luz; medidas de temperatura e umidade relativa internas), Medidas do Processo de Revelação (tempo de processamento e sensitometria), que estão apresentadas na Figura 3, Medidas de Dose de Entrada na Pele do Paciente e Assentamentos das Doses em Trabalhadores.
O formulário Processadora foi implementado para permitir a avaliação objetiva do processo de revelação, devido ao importante impacto na qualidade da imagem e rendimento do departamento. Esta avaliação inclui o tempo de processamento, taxa de reposição dos produtos químicos e sensitometria(5). Os assentamentos das doses em trabalhadores são realizados assim que estejam disponíveis os relatórios das leituras mensais dos dosímetros individuais. O Sistema Radiológico monitoriza os valores de dose de maneira que, se os limites definidos pelo Ministério da Saúde forem ultrapassados, será mostrada uma mensagem de alerta para o usuário avisando o limite excedido e sobre os procedimentos necessários. Além disso, essas mensagens serão mostradas também no histórico de doses acumuladas pelo trabalhador. A opção Relatórios do "menu" principal traz opções referentes a relatórios do sistema, como mostra a Figura 4. Alguns relatórios possuem filtros, ou seja, podem ser selecionados alguns parâmetros especificados pelo usuário do sistema para a impressão. É possível, ainda, sua visibilização antes da impressão.
RESULTADOS Com a implantação do sistema, o tempo gasto com procedimentos administrativos foi reduzido, uma vez que procedimentos redundantes foram eliminados, como a necessidade de escrever nome do paciente em até cinco documentos diferentes. O sistema permite o assentamento das informações e a emissão dos relatórios requeridos pelo Ministério da Saúde formatados para atender à Portaria nº 453. Os dados são assentados de acordo com o objetivo. Os dados dos pacientes servem ao serviço administrativo, e os dados dos equipamentos, à comissão de metrologia do hospital e à Vigilância Sanitária. É possível obter-se os resultados dos cálculos de erros imediatamente após a digitação dos dados de medida, possibilitando ações corretivas imediatas. A pesquisa e comparação de dados é realizada de maneira organizada, criteriosa e rápida, e a apresentação de resultados é feita na forma de tabelas e gráficos. Os relatórios podem informar sobre: que exames são realizados, qual a técnica utilizada em cada exame, quais as doses de radiação acumuladas por funcionário; qual o comportamento de cada equipamento e se ele deve ser ajustado, quais as condições dos equipamentos de proteção individual. Visto que não há um protocolo de medidas desenvolvido para o atendimento dos requisitos da Portaria nº 453, surgiram dúvidas sobre a realização, análise e maneira de relatar as não-conformidades resultantes das avaliações efetuadas. Entretanto, como o programa pode ser facilmente modificado, essa dificuldade pode ser contornada a partir do momento em que esteja disponível um protocolo de medida apropriado.
CONCLUSÕES O Sistema Radiológico possibilita uma gestão eficiente do Serviço de Radiologia em conformidade com a norma do Ministério da Saúde. Por se tratar de ferramenta computacional, esta supervisão pode ser realizada com o simples procedimento de responder a um questionário proposto pelo programa. O resultado do questionário pode ser impresso na forma de relatório, com a lista dos itens que devem ser providenciados. Os detalhes desses itens podem ser esclarecidos com uma consulta rápida, no próprio programa, à Portaria nº 453. As Delegacias Regionais de Saúde e as Divisões de Vigilância Sanitária podem utilizar o Sistema Radiológico como referência na tarefa de prestar esclarecimentos aos estabelecimentos de saúde que procurarem se adequar à Portaria nº 453. O Sistema Radiológico possibilita o acompanhamento dos itens previstos na Portaria nº 453, além de permitir ganho de eficiência em diversas outras atividades imprescindíveis ao funcionamento de um departamento de radiologia de médio porte, em função do uso de uma ferramenta de organização, controle, registro, pesquisa e supervisão de dados. A opção por um programa de controle em MS-Access possibilita que ele seja modificado e adaptado, personalizando-o segundo as especificidades dos diversos departamentos de radiologia, permitindo sua utilização em serviços de pequeno porte
REFERÊNCIAS 1.Brasil. Portaria nº 453, 1º de junho de 1998. Diretrizes de proteção radiológica em radiodiagnóstico médico e odontológico. Secretaria de Vigilância Sanitária, Ministério da Saúde. Brasília, 1998. [ ] 2.Fonseca MM. Programa para avaliação e controle de serviços de radiologia de pequeno e médio portes de acordo com as diretrizes de proteção radiológica do Ministério da Saúde. [Dissertação de mestrado]. Curitiba: Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, 1988. [ ] 3.Burd DJ. Microsoft Access avançado. São Paulo: Makron Books, 1994. [ ] 4.Associação Brasileira de Física Médica. Protocolo para controle de qualidade em equipamentos de raios X diagnóstico. São Paulo: ABFM, 1996. [ ] 5. Jakubiak RR. Programa de garantia de qualidade em imagens radiográficas e a importância da sensitometria em processadoras automáticas de filmes. [Dissertação de mestrado]. Curitiba: Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, 1998. [ ]
* Trabalho realizado no Hospital São Vicente de Paulo, Passo Fundo, RS. |