RELATO DE CASO
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Autho(rs): Rogéria de Castro Martins, Karina Albergaria Melo Zulian, Emília Guerra Pinto Coelho Motta, Renata Lopes Furletti Caldeira Diniz, Wanderval Moreira |
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Descritores: Neoplasias hepáticas, Diagnóstico por tomografia computadorizada |
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Resumo:
INTRODUÇÃO O hepatocarcinoma fibrolamelar é uma neoplasia rara, sem fatores predisponentes, responsável por 2% das neoplasias de origem hepatocelular, acometendo pacientes jovens.
RELATO DO CASO Paciente do sexo masculino, 13 anos de idade, feodermo, estudante, natural e residente em Belo Horizonte, apresentando dor de forte intensidade no braço direito, súbita, acompanhada de febre não termometrada, no dia 27/5/99. O paciente apresentava história de distensão abdominal havia três anos e atraso no crescimento. Foi feito exame físico, no qual se constatou hepatomegalia. Os raios X de tórax e abdome não mostraram alterações. O ultra-som abdominal mostrou fígado de volume bastante aumentado, com massa hipoecogênica, de textura heterogênea, com calcificações e limites bem definidos no lobo direito, e veia hepática média deslocada medialmente pela massa (Figura 1). A tomografia computadorizada abdominal mostrou grande lesão expansiva no lobo direito do fígado, hipodensa, heterogênea, com calcificações grosseiras, de contornos lobulados e limites precisos, acompanhada de deslocamento das estruturas vasculares do fígado e veia cava inferior, e adenomegalias hilares (Figuras 2, 3, 4). O Doppler sugeriu hiperfluxo vascular na massa hepática. Provas de função hepática e alfa-fetoproteína normais.
O paciente foi internado e submetido a laparotomia no dia 16/6/99, quando foi realizada segmentectomia hepática, com retirada de toda a massa tumoral, vesícula biliar e gânglios peripancreático e retrocoledociano. O exame anatomopatológico revelou carcinoma hepatocelular, variante fibrolamelar (Figura 5). O paciente recebeu alta hospitalar em bom estado geral, com programação para acompanhamento clínico-laboratorial-radiológico. Em 19/10/99, o paciente retornou para controle tomográfico, apresentando alterações morfológicas do fígado, compatíveis com fibrose pós-operatória, sem alterações no coeficiente de atenuação do parênquima hepático ou impregnações anormais pelo meio de contraste (Figura 6).
DISCUSSÃO O hepatocarcinoma fibrolamelar é neoplasia rara, variante típica do hepatocarcinoma, responsável por 2% das neoplasias de origem hepatocelular(1). Não apresenta fatores predisponentes(1,2), acometendo pacientes jovens de cinco a 35 anos (média de 23 anos), sem predominância por sexo, e apresentando crescimento lento(1,3,4). Esta condição patológica usualmente se inicia na adolescência, sendo achado ocasional ou apresentando-se sob a forma de massa palpável abdominal. A maioria dos tumores é encontrada em estádio avançado por ocasião do diagnóstico(5). A dosagem de alfa-fetoproteína geralmente é normal(1,3,6). Ao ultra-som apresenta-se como massa lobulada hiperecóica, mas formas hipoecóica e isoecóica podem ser descritas. Áreas hiperecóicas centrais podem estar relacionadas com calcificação(1,6). À tomografia computadorizada observa-se grande massa bem definida, lobulada, hipodensa, apresentando contrastação heterogênea em vários graus, com áreas mais hipodensas centrais representando cicatriz fibrosa(7). As calcificações usualmente são puntiformes e centrais, vistas em 50% a 55% dos hepatocarcinomas fibrolamelares(1,2,8,9). O contraste endovenoso demonstra moderada intensificação na fase tardia. Embora sugestivos, esses achados não dão o diagnóstico definitivo, requerendo-se biópsia para sua confirmação(1). A ressonância magnética mostra lesão hipointensa em T1 e hiperintensa em T2. Devido à sua natureza fibrosa, a cicatriz central mantém-se hipointensa em T1 e T2(1,6,9). Ao exame histopatológico, apresenta-se como massa solitária (417 cm de diâmetro)(1) em 90% dos casos e multifocal em 10% dos casos(5,8), com contornos lobulados, cicatriz fibrosa central e calcificações abundância de fibrose distribuída em lâminas é característica marcante da neoplasia(4). Há presença de hepatócitos eosinofílicos malignos separados por traves fibróticas(1-3). O diagnóstico diferencial deve ser feito com hiperplasia nodular focal(3,10). O prognóstico é favorável(3), com sobrevida de cinco anos de 48% a 60%, comparado com 30% de sobrevida de cinco anos para o hepatocarcinoma típico(1,4). A ressecção cirúrgica apresenta potencial de cura de 10% a 30%(5,11). O tratamento é cirúrgico. A distinção entre hepatocarcinoma fibrolamelar e hiperplasia nodular focal é importante, pelo fato de o primeiro necessitar de ressecção e o segundo, de tratamento conservador.
CONCLUSÃO As imagens radiológicas são importantes na detecção e caracterização das neoplasias focais hepáticas. Ultra-som, tomografia computadorizada e ressonância magnética não são competitivos, mas técnicas complementares. A tomografia computadorizada é o método de imagem mais utilizado, tanto para o diagnóstico como para o controle do hepatocarcinoma fibrolamelar(5), mas o diagnóstico definitivo é dado pelo exame anatomopatológico, de material obtido por aspiração por agulha fina ou ressecção cirúrgica(8). O ultra-som é um método comum, porém mais usado para guiar biópsias e para controle de massas recorrentes(5).
REFERÊNCIAS 1. Fernandez MP, Redvanly RD. Primary hepatic malignant neoplasms. Radiol Clin North Am 1998;36:33348. [ ] 2. Brandt DJ, Johnson CD, Stephens DH, Weiland LH. Imaging of fibrolamellar hepatocellular carcinoma. AJR 1988;151:2959. [ ] 3. Friedman AC, Lichtenstein JE, Goodman Z, Fishman EK, Siegelman SS, Dachman AH. Fibrolamellar hepatocellular carcinoma. Radiology 1985;157:5837. [ ] 4. Takano H, Smith WL. Gastrointestinal tumors of childhood. Radiol Clin North Am 1997;35:136789. [ ] 5. Stevens WR, Johnson CD, Stephens DH, Nagorney DM. Fibrolamellar hepatocellular carcinoma: stage at presentation and results of aggressive surgical management. AJR 1995;164:11538. [ ] 6. Cha SH, Chezmar JL. Primary and secondary hepatic neoplasms. Hepatobiliary and pancreatic radiology imaging and intervention. 1st ed. New York: Thieme Medical, 1998. [ ] 7. Vilgrain V, Vullierme MP. Tumeurs hépatiques malignes primitives. In: Encyclopédie Médico-Chirurgicale 1992; v.3, cap. 33520A20:910. [ ] 8. Baron RL, Freeny PC, Moss AA. The liver. In: Moss AA,Gamsu G, Genant HK. Computed tomography of body with magnetic resonance imaging. 3rd ed. Philadelphia: Saunders, 1992. [ ] 9. Heiken JP. Liver. In: Lee JKT, Stanley RJ, Sangel SS, Heiken JP. Computed body tomography with MRI correlation. 3rd ed. Philadelphia: Lippincott-Raven, 1998. [ ] 10. Caseiro-Alves F, Zins M, Mahfouz A-E, et al. Calcification in focal nodular hyperplasia: a new problem for differentiation from fibrolamellar hepatocellular carcinoma. Radiology 1996;198: 88992. [ ] 11. Scharschmidt BF. Tumores hepáticos. In: Wyngaarden JB, Smith LH, Bennett JC, eds. Cecil Tratado de medicina interna. 19ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1993. [ ]
1. Médicas Residentes de Radiologia do Hospital Mater Dei, Belo Horizonte, MG. |