ENSAIO ICONOGRÁFICO
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Autho(rs): Glaucia Andrade e Silva Palácio, Viviane Vieira Francisco, Cristiane Lima Abbehusen, Dario Ariel Tiferes, Giuseppe D'Ippolito, Jacob Szejnfeld |
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ARTEFATOS RELACIONADOS AO MÉTODO 1 - Artefato de "retroprojeção" ou "dobradura" (em inglês, "aliasing" ou "wraparound" ou "fold-over")(1-4) Este artefato ocorre quando uma ou mais dimensões do objeto de estudo são maiores do que o campo de visão (FOV) para aquela imagem. Dessa forma, as regiões fora do campo de visão são erroneamente codificadas e aparecem "dobradas" e em cima da estrutura examinada, sobrepondo-se a esta última (Figuras 1 e 2). Este artefato pode ser suprimido tornando-se o FOV suficientemente grande para incluir toda a área a ser estudada(1-4).
Existem outras maneiras para reduzir os efeitos deste artefato. Uma é a utilização de bobinas de superfície que excluem o sinal da área do paciente que apresenta o artefato. Outros artifícios são o uso de pulsos de pré-saturação, que suprimem o sinal de partes do paciente situadas fora do campo de visão, e a utilização de filtros para remover as freqüências fora da faixa(1-4). 2 - Artefato de "truncamento" ou de "truncagem" (em inglês, "truncation")(1,4) Este artefato tem aspecto semelhante ao artefato de movimento, mas não tem relação com este, e ocorre devido a erros de truncamento da transformada de Fourier. São observados nas interfaces de estruturas com alto contraste entre si e aparecem como uma série de bandas, ou linhas, alternadas, de hipo e hipersinal, paralelas à interface entre os tecidos de sinal muito diferente. Tal efeito é acentuado quando se utiliza matriz com pixels muito espessos (128 × 128), e na prática é mais freqüentemente observado no sentido da codificação de fase(1,4). A sua prevenção consiste no uso de matriz mais fina, com elevada resolução espacial e métodos de filtragens matemáticas da imagem, que alguns equipamentos dispõem e que diminuem as oscilações originárias do artefato (filtros de Haning)(1,4). 3 - Artefato em "zebra" (em inglês, "zebra stripes")(1,4) Estes artefatos podem ser vistos na periferia de imagens gradiente-eco quando há uma transição abrupta na magnetização da transição da interface ar-tecido. Soluções para minimizá-lo incluem expandir o FOV e utilizar seqüências spin-eco(1,4). 4 - Artefato de deslocamento químico (em inglês, "chemical shift")(1,2,5,6) Este artefato é devido às diferentes freqüências de ressonância da água e da gordura. Ocorre, na imagem, um deslocamento ao longo da interface lipídico-aquosa, que aparece como linhas hipointensas e hiperintensas nos contornos entre os órgãos e o tecido adiposo circundante. Este artefato é chamado de "chemical shift misregistration". Um segundo efeito, chamado de "chemical shift phase cancelation", ocorre porque os componentes espectrais dentro do voxel podem somar-se de forma construtiva (em fase) ou destrutiva (fora de fase). Resulta numa delineação escura dos tecidos nas seqüências fora de fase (Figura 3). A água e a gordura estão fora de fase quando o TE é um múltiplo ímpar de 2,3 ms, e para os múltiplos pares, estão em fase. Ocorrem em ambos os eixos, de fase e de freqüência, e exclusivamente em seqüências gradiente-eco(1,6). Estes artefatos podem ser minimizados realizando-se imagens em equipamentos com campo magnético de menor intensidade, aumentando a largura de banda, reduzindo o tamanho do voxel, e empregando seqüências de pulso específicas, como, por exemplo, a seqüência STIR ("short time inversion recovery"). Reduzir o tamanho do voxel também ajuda a minimizar os artefatos por cancelamento de fase, pois com o voxel menor reduz-se a probabilidade de que um dado voxel contenha tanto prótons de água quanto de gordura. Por outro lado, deve ser lembrado que o artefato por cancelamento de fase pode ser útil na detecção de gordura microscópica, como, por exemplo, na caracterização de adenomas da glândula adrenal (Figura 4) e para a detecção de infiltração gordurosa hepática(1,2,5,6) (Figuras 5 e 6).
ARTEFATOS INERENTES AO PACIENTE 1 - Artefatos de suscetibilidade magnética(1,4,5) A suscetibilidade magnética de um tecido traduz a sua capacidade em adquirir magnetização própria quando ele é submetido a um campo magnético. A magnetização adquirida pode ser concordante (paralela) ou discordante (antiparalela) ao campo magnético externo. No primeiro caso, diz-se que a substância tem suscetibilidade magnética positiva e aumenta o campo magnético resultante, sendo chamada de paramagnética. No segundo caso, tem suscetibilidade magnética negativa e enfraquece o campo magnético resultante, sendo chamada de diamagnética. As substâncias com forte suscetibilidade magnética positiva são chamadas de superparamagnéticas, ferromagnéticas, ou ferrimagnéticas(1,4). O artefato de suscetibilidade magnética é comumente encontrado na presença de ar, metal, cálcio ou meio de contraste gadolínio concentrado, e aparece como hipointensidade focal de sinal envolvida por um halo hiperintenso, podendo estar associada a distorção da anatomia dos tecidos circunjacentes. Este último sinal é mais acentuado na presença de metais ferromagnéticos(5). Para reduzir estes artefatos, pode ser empregado voxel menor, tempo de eco mais curto, largura de banda maior, e até mesmo realizar o exame em equipamento com campo magnético de menor intensidade. Tais artefatos são mais proeminentes nas seqüências gradiente-eco e eco-planar (Figura 7)(1,4,5). 2 - Artefatos de movimento(1-5,7,8) São os mais freqüentes artefatos de imagens de RM e se manifestam como fantasmas ("ghost") ou borrões ("blurring") nas imagens. Os artefatos de movimentação resultam principalmente de dois efeitos: "view-to-view" e "within-view". O primeiro efeito ("view-to-view") decorre da movimentação que ocorre durante a aquisição de níveis de codificação de fase, e leva a uma reconstrução da imagem ao longo do eixo de fase. Quando o movimento é periódico, isto é, ocorre de maneira regular, o resultado é completa ou incompleta replicação dos tecidos em movimento, sendo comumente chamado de artefato fantasma. É observado ao longo da direção da codificação da fase da imagem e independe da direção do movimento. Movimentos fisiológicos que comumente resultam em artefatos fantasmas incluem movimentos respiratórios (Figura 8) e de pulsação vascular (Figura 9)(1-5,7,8). O segundo efeito ("within-view") decorre da movimentação entre o tempo de excitação da radiofreqüência e a coleta do eco, resultando em perda de coerência de fase entre a população de spins em movimento no tempo de formação do eco. Esta incoerência se manifesta como borrões e aumento do ruído na imagem. Este efeito é expresso por toda a imagem e ocorre na direção do movimento, diferentemente do tipo fantasma. É mais freqüentemente associado com movimentos randomizados, como, por exemplo, peristaltismo gastrintestinal, deglutição, tosse e movimentos grosseiros do paciente(1-5,7,8). As estratégias para se obter redução dos artefatos de movimento nas RM do abdome podem ser agrupadas nas seguintes técnicas: a) aquelas que tentam reduzir os artefatos de movimento por correção quanto ao ruído na imagem; b) reduzindo a movimentação "tomada a tomada", isto é, que ocorre entre os pulsos de 90 graus; c) reduzindo a movimentação que ocorre entre a aplicação do pulso de 90 graus e a coleta de dados(1-5,7,8). a) Reduzindo a média dos sinais Esta técnica consiste em reduzir a média dos sinais, pois considera os artefatos de movimento como ruído. Com a sua utilização, o tempo médio de aquisição do exame é dobrado para cada média de sinal. b) Reduzindo o movimento "tomada a tomada" - Sincronização cardíaca ("gatting"): Embora funcione bem para a obtenção de imagens específicas do coração, não é tão eficaz na redução dos artefatos de movimentos cardíacos transmitidos para o abdome superior. - Sincronização respiratória: Os dados são coletados apenas durante uma porção do ciclo respiratório, geralmente próximo ao final da expiração, quando o movimento é mínimo. Esta técnica apresenta a desvantagem de prolongar o tempo de exame em duas a quatro vezes (Figuras 8A e 8B). - Codificação de fase ordenada ("respiratory ordered phase encoding"): Nesta técnica os dados são coletados de forma contínua, onde são codificados os dados periféricos durante o movimento máximo, e os dados centrais durante o movimento mínimo (Figuras 8C e 8D). c) Anulação do momento gradiente ("gradient moment nuling") Serve para anular os artefatos que ocorrem por movimentos aleatórios entre o pulso de radiofreqüência de 90 graus e a coleta de dados. Outros métodos para reduzir artefatos respiratórios consistem no uso de faixas de restrição abdominal, técnicas em apnéia e utilização de seqüências ultra-rápidas. Pulsação vascular gera artefatos fantasmas. Estes artefatos ocorrem mais comumente nas artérias, particularmente na aorta. Eles também aumentam com a intensidade do sinal do sangue, que ocorre, por exemplo, em seqüências com TE curto ou gradiente-eco, ou após a injeção endovenosa de gadolínio, por encurtamento do T1. Para TE muito curtos pode haver efeito paradoxal e redução de artefatos pós-gadolínio. Estes artefatos são reconhecidos pelo seu alinhamento com o vaso de origem ao longo do eixo de codificação de fase da imagem, assim como a reprodução do tamanho e forma do vaso, mas não necessariamente da intensidade do sinal (Figura 9). Podem ser reduzidos, também, usando pulsos de pré-saturação e anulação do momento gradiente. Outra estratégia consiste em mudança de fase, projetando o artefato de fluxo sobre uma região anatômica fora do enfoque do estudo(1,4,5). Movimentos peristálticos freqüentemente causam borrões nas imagens e artefatos fantasmas. Estes artefatos aumentam quando a luz do trato gastrintestinal contém material que produz elevado hipersinal. Drogas anticolinérgicas (por exemplo, glucagon e butilescopolamina) reduzem a freqüência e a amplitude dos movimentos peristálticos e devem ser usadas. Técnicas como redução da média dos sinais e anulação do momento gradiente também podem ser úteis. E, finalmente, a administração de meio de contraste oral (agentes de contraste negativos), que diminui a intensidade de sinal do trato gastrintestinal, pode também reduzir estes artefatos(8). Movimentos grosseiros do paciente podem ser reduzidos se conseguirmos diminuir sua ansiedade, o desconforto físico e o tempo prolongado de exame. A utilização de distração audiovisual, técnicas de relaxamento e, menos freqüentemente, hipnose tem obtido sucesso. Em situações extremas, medidas farmacológicas na forma de sedativos, analgésicos e ansiolíticos podem se tornar necessárias(7).
CONCLUSÃO Os artefatos de RM podem ser evitados ou corrigidos à medida que o radiologista familiariza-se com os tipos mais comuns. Um entendimento das causas de tais artefatos permitirá fazer alterações racionais nas técnicas de imagem, para eliminá-los ou reduzi-los.
REFERÊNCIAS 1.Mirowitz SA. MR imaging artifacts. Challenges and solutions. Magn Reson Imaging Clin N Am 1999;7: 717-32. 2.Farahani K, Lufkin RB. Fluxo, movimento e artefatos por ressonância magnética. In: Lufkin RB, ed. Manual de ressonância magnética. 2a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999:70-90. 3.Franc J, Doyon D. Diagnóstico por imagem em ressonância magnética. Artefatos. 2a ed. Rio de Janeiro: Medsi, 2000:44-51. 4.Arena L, Morehouse HT, Safir J. MR imaging artifacts that simulate disease: how to recognize and eliminate them. Radiographics 1995;15:1373-94. 5.Mirowitz SA. Diagnostic pitfalls and artifacts in abdominal MR imaging: a review. Radiology 1998;208:577-89. 6.Hood MN, Ho VB, Smirniotopoulos JG, Szumowski J. Chemical shift: the artifact and clinical tool revisited. Radiographics 1999;19:357-71. 7.Wood ML, Runge VM, Henkelman RM. Overcoming motion in abdominal MR imaging. AJR 1988; 150:513-22. 8.Marti-Bonmati L, Graells M, Ronchera-Oms CL. Reduction of peristaltic artifacts on magnetic resonance imaging of the abdomen: a comparative evaluation of three drugs. Abdom Imaging 1996; 21:309-13.
* Trabalho realizado no Departamento de Diagnóstico por Imagem da Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina (Unifesp-EPM), São Paulo, SP. |