Radiologia Brasileira - Publicação Científica Oficial do Colégio Brasileiro de Radiologia

AMB - Associação Médica Brasileira CNA - Comissão Nacional de Acreditação
Idioma/Language: Português Inglês

Vol. 35 nº 4 - Jul. / Ago.  of 2002

RELATO DE CASO
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Page(s) 243 to 245



Pólipo fibrovascular do esôfago: relato de caso e revisão da literatura

Autho(rs): Bruno Barcelos da Nóbrega, Sizenildo da Silva Figueirêdo, Luciana Porto Cavalcante, Ronei Edmar Ribeiro, Kim-Ir-Sen Santos Teixeira, Carlos Inácio de Paula

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Texto em Português English Text

Descritores: Pólipo fibrovascular, Esôfago, Tomografia computadorizada

Keywords: Fibrovascular polyp, Esophagus, Computed tomography

Resumo:
O pólipo fibrovascular do esôfago é um tumor benigno raro, pedunculado e intraluminal. Relata-se um caso desta entidade, discutindo seus achados ao esofagograma e tomografia computadorizada. Em virtude da excelente correlação entre as características patológicas e de imagem, os estudos de tomografia computadorizada e ressonância magnética são considerados específicos e úteis em sua elucidação diagnóstica.

Abstract:
Fibrovascular polyp of the esophagus is a rare, pedunculated, intraluminal, benign tumor. We describe a case of a patient with a fibrovascular polyp of the esophagus and discuss the esophagogram and computed tomography findings. Due to the excellent correlation between pathology and imaging findings, computed tomography and magnetic resonance imaging are considered specific and useful in its diagnosis.

 

 

INTRODUÇÃO

Pólipo fibrovascular do esôfago (PFVE) é um tumor benigno, pedunculado e intraluminal, recoberto por mucosa normal e composto por tecidos vascular, fibroso e adiposo(1). As características tumorais e seu componente adiposo são identificados precisamente na tomografia computadorizada (TC), permitindo-nos fazer um diagnóstico acurado e auxiliando no manejo cirúrgico do paciente(2). Trata-se de uma entidade rara e pouco relatada na literatura. Desde sua primeira descrição, em 1959(3), pouco mais de 75 casos foram relatados(4).

 

RELATO DO CASO

Paciente V.C.F.N., sexo masculino, 39 anos de idade, procurou atendimento médico apresentando disfagia alta progressiva, odinofagia e dor retroesternal de início há um ano. Exames físico e laboratoriais não foram elucidativos.

A radiografia simples do tórax evidenciou alargamento do mediastino superior à direita, por dilatação esofágica proximal. Esta foi confirmada pelo esofagograma, que demonstrou lesão expansiva, pedunculada, lobulada e alongada (aspecto de "salsicha") originando-se do terço superior do órgão e estendendo-se inferiormente por cerca de 10 cm (Figura 1). A TC confirmou volumoso tumor intraluminal, pedunculado, preenchendo e dilatando a luz esofágica, originando-se logo abaixo da cartilagem cricóide. As medidas da densidade revelaram componentes de gordura (densidade negativa) e sólidos (densidade de partes moles) (Figura 2). Não havia linfonodomegalias mediastinais.


 


 

Ao exame endoscópico foi visualizada tumoração revestida por mucosa normal não ulcerada, sem, no entanto, precisar o seu local de inserção.

O tumor foi ressecado por via endoscópica transoral (Figura 3) e o exame anatomopatológico confirmou PFVE.

 


 

DISCUSSÃO

Os tumores benignos do esôfago são incomuns, correspondendo a menos de 25% das neoplasias esofagianas(5). São classificados em intramurais ou intraluminais. O grupo dos intramurais, que inclui o leiomioma e o neurofibroma, corresponde à maioria(6). Entre os intraluminais, o PFVE é o mais comum(6-8).

Estes pólipos são quase sempre lesões únicas, de crescimento lento, compostas por quantidades variáveis de tecido fibrovascular, células adiposas e estroma. Surgem da mucosa ou submucosa e são recobertos por epitélio escamoso(6). De acordo com seus componentes histológicos, tais lesões têm sido denominadas de lipomas, fibromas, fibrolipomas ou pólipos fibroepiteliais(9), porém, recentemente, todos foram agrupados como PFVE, conforme a Classificação Histológica Internacional de Tumores, recomendada pela Organização Mundial da Saúde(10).

Os PFVE predominam em homens, numa proporção de 3:1(11), com pico de incidência entre a sexta e sétima décadas de vida(9,12). Na época da apresentação, 75% têm mais de 7 cm de comprimento(13), e lesões maiores de 20 cm já foram relatadas(14). Em uma série de 19.982 autópsias, encontrou-se uma prevalência de 8,8% de PFVE dentre as lesões tumorais benignas do esôfago(15). A maioria (85-90%) surge no terço superior do esôfago(4,16), em áreas originalmente frágeis da parede posterior na junção faringoesofagiana: entre os músculos cricofaríngeos superior e inferior (área frágil de Killian) e inferiormente ao músculo cricofaríngeo (triângulo de Laimer)(17,18). Há relatos, contudo, de seu surgimento em vários locais dos tratos respiratório e digestivo, incluindo faringe, tonsilas, laringe, brônquios, e ainda o espaço parafaríngeo e a cavidade oral(19).

A apresentação clínica é variada, desde casos assintomáticos até asfixia obstrutiva(20). Disfagia progressiva é o sintoma mais freqüente(6,11,14). Outras manifestações incluem odinofagia, náuseas, desconforto subesternal, sensação de corpo estranho, regurgitação da lesão, tosse, dispnéia, mudança de voz e roncos(19). De modo extremo, foram descritos casos de morte súbita por asfixia, em conseqüência a prolapso do pólipo no trato respiratório superior(20). Degeneração maligna não foi até então observada(21).

Procedimentos diagnósticos habituais são o esofagograma baritado e a endoscopia. O esofagograma evidencia lesão expansiva submucosa, lobulada, de limites precisos e de aspecto ovalado alongado (forma de "salsicha")(12), mostrando-se móvel às deglutições. Em muitos casos pode-se identificar o pedículo tumoral, necessário à sua caracterização(22). À endoscopia, 25% dos tumores intraluminais e intramurais não são detectados(4). Os PFVE podem passar despercebidos, pois são revestidos por mucosa esofagiana intacta confundindo-se com a da parede adjacente(4).

A TC e a ressonância magnética (RM) são métodos rápidos e não invasivos, úteis na investigação de tumores mediastinais. A TC demonstra lesão expansiva intraluminal, heterogênea, de aspecto alongado e lobulado, apresentando caracteristicamente áreas de hipoatenuação no seu interior, compatíveis com gordura, sendo a mesma circundada por tecido fibrovascular manifestando-se com isoatenuação(23).

A RM, em virtude da sua capacidade multiplanar, é útil na caracterização espacial do tumor e de sua composição tecidual(4,24). A lesão porta-se de maneira heterogênea, com áreas marcantes de hipersinal nas seqüências ponderadas em T1 devido ao componente lipídico(18,23). Nas seqüências ponderadas em T2 a heterogeneidade permanece com predomínio do hipossinal(18,23). O realce após a injeção do meio de contraste é heterogêneo e variável.

O diagnóstico diferencial inclui outras condições neoplásicas e não neoplásicas apresentadas na forma de pólipo — hamartomas, pólipos inflamatórios, lipomas, hemangiomas, linfangiomas, schwannomas(25) — e neoplasias raras como os carcinóides e quemodectomas(18).

A exérese é recomendada, sendo usualmente curativa(11). Três acessos são usados: transoral, transcervical ou transtorácico. Se o pólipo possui uma haste estreita e acessível ao laringoscópio rígido, a via transoral pode ser usada; no entanto, para melhor controle da hemorragia, a via transcervical é a mais segura(22). Em lesões originadas abaixo do músculo cricofaríngeo, a via transtorácica é a de escolha(21).

Tumores esofágicos intraluminais heterogêneos e alongados, com densidade de gordura na TC e hipersinal em T1 na RM são considerados típicos do PFVE(23). Estabelece-se, portanto, uma perfeita correlação entre os achados anatomopatológicos e tais métodos de imagem.

 

REFERÊNCIAS

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* Trabalho realizado no Departamento de Diagnóstico por Imagem e Anatomia Patológica do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG), Goiânia, GO.
1. Médicos Residentes em Radiologia do Departamento de Diagnóstico por Imagem e Anatomia Patológica do HC-UFG.
2. Acadêmica do 4º ano da Faculdade de Medicina da UFG.
3. Médico Radiologista, Professor Assistente do Departamento de Diagnóstico por Imagem e Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina da UFG.
4. Médico Radiologista, Professor Adjunto Doutor do Departamento de Diagnóstico por Imagem e Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina da UFG.
5. Médico Oncologista do Hospital Araújo Jorge.
Endereço para correspondência: Dr. Bruno Barcelos da Nóbrega. Rua 110, nº 60, Setor Sul. Goiânia, GO, 74085-100. E-mail: brunoradiol@hotmail.com
Recebido para publicação em 10/1/2002. Aceito, após revisão, em 20/2/2002.


 
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