QUAL O SEU DIAGNÓSTICO?
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Autho(rs): Márcio Martins Machado, Ana Cláudia Ferreira Rosa, Nestor de Barros, Marcel C.C. Machado, Giovanni Guido Cerri |
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A TC helicoidal demonstrou lesão predominantemente sólida na transição entre o colo e o corpo pancreáticos (Figuras 2A e 2B), apresentando realce significativo e heterogêneo pelo meio de contraste endovenoso (Figura 2B) e determinando compressão da veia esplênica e do eixo venoso mesentérico portal. A referida lesão também apresentava áreas focais hipoatenuantes na fase sem contraste endovenoso (Figura 2A), que se mostraram não captantes ou hipocaptantes na fase com constraste (Figura 2B), representando os componentes císticos da lesão.
A paciente foi operada, tendo sido submetida a pancreatectomia segmentar, com remoção do colo e parte do corpo pancreático. Havia apenas compressão dos vasos regionais pelo tumor, sem invasão vascular, tendo sido possível a liberação da lesão destas estruturas. A parte distal do pâncreas foi derivada para um segmento de alça de intestino delgado em "Y de Roux", havendo a preservação do baço. O exame anatomopatológico evidenciou tratar-se de neoplasia epitelial sólido-cística papilar de pâncreas (tumor de Frantz). A paciente evoluiu bem, tendo alta sem complicações.
COMENTÁRIOS As neoplasias císticas pancreáticas apresentam ocorrência pouco freqüente dentre os tumores pancreáticos. Muitos estudos publicados analisam seus aspectos diagnósticos pelos métodos de imagem, histológicos, bioquímicos e imuno-histoquímicos(1?10). A neoplasia epitelial papilífera sólido-cística de pâncreas (NEPSC), ou tumor de Frantz, representa uma variante rara dentre os tumores pancreáticos císticos, tendo sido descrita pela primeira vez por Frantz, em 1959(4). Acomete preferencialmente o sexo feminino, com incidência maior na segunda e terceira décadas de vida. Apresenta tendência de crescimento local, habitualmente sem invasão vascular e sem disseminação a distância(5?9). Entretanto, em algumas situações, se comportam mais agressivamente, podendo comprometer vasos e apresentar metástases a distância(8). Usualmente, estas lesões se apresentam com grandes dimensões quando do diagnóstico, segundo alguns autores com média de 9,0 cm, ocorrendo predominantemente na cauda, embora possam ocorrer em qualquer parte do pâncreas(11). Os tumores pancreáticos representam grande desafio ao manuseio cirúrgico, sendo que as ressecções pancreáticas apresentam índices de morbidade e mortalidade que não são desprezíveis(10). Estes aspectos também devem ser considerados quando se avaliam as neoplasias pancreáticas menos agressivas, como a NEPSC. A NEPSC representa uma variedade de tumor pancreático que apresenta baixo potencial de malignidade, mas que deve ser ressecada, para que se obtenha a cura(6,7). A maioria dos pacientes que são submetidos à ressecção cirúrgica não apresenta recorrência da lesão, quer regionalmente ou a distância(7). Do ponto de vista patológico, essas lesões caracterizam-se por serem bem encapsuladas. Apresentam áreas sólidas contendo delicada e numerosa rede de vasos sanguíneos, observando-se, também, áreas císticas e papilares. A predominância dessas áreas depende da intensidade dos fenômenos de hemorragia e degeneração que ocorrem nesses tumores. A hemorragia intratumoral é extremamente comum(5,6), tendo sido identificada em 55 dos 56 casos avaliados em estudo recente(5). As calcificações podem ocorrer, apresentando usualmente padrão periférico. As metástases linfonodais, hepáticas e peritoneais, e a invasão vascular e de órgãos adjacentes, embora pouco comuns, têm sido referidas na literatura(5,8). Os achados dos exames de imagem refletem a variabilidade de apresentação patológica (macroscópica) desses tumores, referidas acima. Algumas lesões mostram-se predominantemente císticas, outras predominantemente sólidas, e ainda existem aquelas com equilíbrio dos componentes sólidos e císticos. Ao ultra-som evidenciam-se as áreas sólidas como imagens ecogênicas e hiperecogênicas, e as áreas císticas (hemorrágicas ou não-hemorrágicas) como imagens hipoecogênicas apresentando ecos em seu interior, ou anecóides com ecos em suspensão. À TC, a NEPSC apresenta, habitualmente, áreas de degeneração cística e necrose, sendo comum também a presença de focos hemorrágicos intratumorais. Embora os focos hemorrágicos possam ser hiperatenuantes, mais comumente representam áreas hemorrágicas antigas, mostrando-se hipotenuantes. Nas áreas císticas é comum observar-se a presença de fluido apresentando "débris" em suspensão, indicando muitas vezes os produtos de degradação do sangue(11). As áreas sólidas apresentam realce significativo pelo meio de contraste, ficando heterogêneas devido à presença constante do componente cístico, ora mais, ora menos exuberante. Tanto à ultra-sonografia quanto na tomografia, é habitual a demonstração de compressões vasculares, devido às grandes dimensões apresentadas por esses tumores. Entretanto, como referido acima, habitualmente não existe invasão vascular propriamente dita.
REFERÊNCIAS 1. Lewandrowski KB, Southern JF, Pins MR, Compton CC, Warshaw AL. Cystic fluid analysis in the differential diagnosis of pancreatic cysts. A comparison of pseudocysts, serous cystadenomas, mucinous cystic neoplasms, and mucinous cystadenocarcinoma. Ann Surg 1993;217:41?7. [ ] 2. Rubin D, Warshaw AL, Southern JF, Pins M, Compton CC, Lewandrowski KB. Expression of CA 15.3 protein in the cyst contents distinguishes benign from malignant pancreatic mucinous cystic neoplasms. Surgery 1994;115:52?5. [ ] 3. Alles AJ, Warshaw AL, Southern JF, Compton CC, Lewandrowski KB. Expression of CA 72-4 (TAG-72) in the fluid contents of pancreatic cysts. A new marker to distinguish malignant pancreatic cystic tumors from benign neoplasms and pseudocysts. Ann Surg 1994;219:131?4. [ ] 4. Frantz UK. Tumors of the pancreas. Atlas of tumor pathology. Section 7, Fascicles 27 and 28. Washington, DC: Armed Forces Institute of Pathology, 1959:32?3. [ ] 5. Buetow PC, Buck JL, Pantongrag-Brown L, Beck KG, Ros PR, Adair CF. Solid and papillary epithelial neoplasm of the pancreas: imaging-pathologic correlation in 56 cases. Radiology 1996;199: 707?11. [ ] 6. Pettinato G, Manivel JC, Ravetto C, et al. Papillary cystic tumor of the pancreas. A clinicopathologic study of 20 cases with cytologic, immunohistochemical, ultrastructural, and flow cytometric observations, and a review of the literature. Am J Clin Pathol 1992;98:478?88. [ ] 7. Zinner MJ, Shurbaji MS, Cameron JL. Solid and papillary epithelial neoplasms of the pancreas. Surgery 1990;108:475?80. [ ] 8. Nishihara K, Nagoshi M, Tsuneyoshi M, Yamaguchi K, Hayashi I. Papillary cystic tumors of the pancreas. Assessment of their malignant potential. Cancer 1993;71:82?92. [ ] 9. Machado MCC, Cunha JEM, Bacchella T, et al. Tumor de Frantz (neoplasia epitelial papilar e cística de pâncreas). Estudo de três casos. Rev Hosp Clin Fac Med São Paulo 1993;48:29?34. [ ] 10. Murr MM, Sarr MG, Oishi AJ, van Heerden JA. Pancreatic cancer. CA Cancer J Clin 1994;44: 304?18. [ ] 11. Stanley RJ, Semelka RC. Pancreas. In: Lee JKT, Sagel SS, Stanley RJ, Heiken JP, eds. Computed body tomography with MRI correlation. Philadelphia: Lippincott-Raven, 1998:873?959. [ ]
Trabalho realizado nos Departamentos de Radiologia do Hospital Sírio Libanês e do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), São Paulo, SP. |