ARTIGO ORIGINAL
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Autho(rs): Flávio Augusto Ataliba Caldas, Caroline Tsumori Motomiya, Helena Cristina da Silva |
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Descritores: Linfoma, Tomografia computadorizada, Ultra-sonografia |
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Resumo:
INTRODUÇÃO
Manter-se atualizado ao rápido avanço das tecnologias de imagem é um desafio para radiologistas e clínicos, que devem integrar a maioria destes progressos a fim de otimizar os cuidados ao paciente, resultando no menor custo possível(1). A tomografia computadorizada (TC) se destaca por oferecer informação adicional aos resultados obtidos com outros métodos diagnósticos, fazendo possível a detecção de infiltração linfomatosa em diversos órgãos abdominais, incluindo os gânglios retroperitoneais, pélvicos, mesentéricos e outros(1,2). Além disso, a TC pode determinar a verdadeira extensão da enfermidade, de tal forma que se faz possível detectar o processo linfomatoso das diferentes cadeias ganglionares intra e retroperitoneais, assim como infiltração neoplásica ao fígado, baço, rins, pâncreas, tubo digestivo, entre outros(2,3). A TC tem muitas utilidades na avaliação do linfoma de Hodgkin (LH) e do linfoma não-Hodgkin (LNH), definindo a extensão da doença para o estadiamento acurado, norteando o plano de tratamento, avaliando a resposta da terapia e monitorizando o progresso da doença e possíveis recidivas(4). A ultra-sonografia (US) é um método de imagem útil para a avaliação de adenopatias paraaórticas e também pode detectar linfonodos aumentados isolados de cadeias linfocitárias. No entanto, segundo Redman et al.(5), o método mais acurado para a avaliação linfográfica superficial e profunda ainda é a TC. A incidência de LH e LNH é de 8% de todas as doenças malignas, entretanto esses linfomas são potencialmente curáveis. A extensão da doença é o fator mais importante que influencia a remissão e a sobrevida dos pacientes(1). Os linfomas representam a sétima causa mais comum de mortes nos Estados Unidos. Oitenta por cento dos pacientes se apresentam ao médico com linfadenopatia superficial, geralmente localizada no pescoço e com menor freqüência na axila e na região inguinal(2). Como os linfomas não são tratados cirurgicamente e nem todas as lesões podem ser submetidas à biópsia, do ponto de vista ético e prático, a verdadeira sensibilidade, especificidade e acurácia da modalidade das imagens usadas para o estadiamento não podem ser avaliadas. Dados da literatura geralmente comparam duas modalidades de imagens: sítios concordantes da doença, que são considerados doença real, e sítios discordantes, que são discriminados por biópsia, quando possível, ou por seguimento clínico e radiológico(1,3). A característica mais comum do linfoma é a linfadenopatia clinicamente palpável. Pode haver envolvimento de qualquer cadeia linfática do corpo, e a linfadenomegalia é o achado mais comumente encontrado em TC(2,4). Em relação aos achados histológicos dos linfomas Hodgkin e não-Hodgkin, a Tabela 1 mostra a classificação internacional e sua prevalência.
O presente trabalho teve como objetivo descrever e analisar achados de imagem em pacientes com diagnóstico confirmado de linfoma, a queixa principal que os levou a procurar o serviço de saúde, revelando já algum tipo de manifestação da doença linfocitária, ainda não diagnosticada neste momento, e alterações no exame físico destes pacientes nesta consulta inicial.
CASUÍSTICA E MÉTODOS Foi realizado estudo retrospectivo de 30 pacientes que tinham diagnóstico anatomopatológico de linfoma. A confirmação do diagnóstico se deu em 70% por biópsia de gânglios linfóides, em 23,3% por biópsia de massa linfóide encontrada por laparotomia exploratória, em 3,3% por biópsia de tonsila e em 3,3% por biópsia de pele. A amostra estudada era formada por 53,3% pacientes do sexo masculino e 46,6% do sexo feminino, sendo a variação etária de dois a 75 anos, com a média de 27,7 anos, e todos com sorologia negativa para o vírus HIV. Tais pacientes tinham exames de imagens (TC de tórax e abdome e US de abdome total) realizados com fins diagnósticos ou de estadiamento, e acompanhamento terapêutico, de janeiro de 1996 a janeiro de 2001, no Departamento de Hematologia do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina de Marília, SP. As tomografias foram realizadas em aparelho General Electric modelo 9800, e os ultra-sons, em aparelho Toshiba Ecocee, no Serviço de Diagnóstico por Imagem do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina de Marília. Nas tomografias, a técnica empregada foi espessura de corte de 10 mm, tempo de aquisição de três segundos, com matriz 512 × 512, sendo todos os exames realizados com administração de meio de contraste iodado por via oral e por via endovenosa, para aqueles pacientes submetidos a TC de abdome. A partir de uma revisão dos prontuários destes pacientes, levantou-se qual era a principal queixa que os fizeram procurar o serviço de saúde, nesta data já revelando acometimento do linfoma que seria ainda diagnosticado, quais as alterações do exame físico nesta primeira consulta e quais os achados nos exames de imagem.
RESULTADOS Aspectos clínicos Quanto ao diagnóstico, 46,6% dos pacientes eram portadores de LNH, 40% tinham LH, 10% tinham linfoma de Burkitt (LB) e 3,3% eram portadores de linfoma linfoblástico (LL). A principal queixa que levou o paciente pela primeira vez a procurar o serviço de saúde, quando já se revelava algum acometimento causado pela doença, neste momento ainda não descoberta, foi: 53,3% com queixa de caroço pelo corpo, sendo metade deles diagnosticado LH e metade LNH; 6,6% dos pacientes eram incomodados por tosse, e seu diagnóstico, posteriormente descoberto, seria de LH; 23,3% do total de pacientes reclamavam de emagrecimento, dos quais 13,3% saberiam mais tarde serem portadores de LH, 6,6% de LNH e 3,3% de LB; a dispnéia levou 10% dos pacientes ao médico, dos quais 6,6% descobririam mais tarde serem portadores de LNH e 3,3% de LL; a dor também foi responsável por levar 10% dos pacientes ao médico, dos quais 6,6% teriam diagnóstico de LB e 3,3% teriam diagnóstico de LNH. Dos pacientes adiante com diagnóstico de LNH, 3,3% do total queixavam-se de tontura e 3,3% queixavam-se de prurido e manchas pelo corpo, odinofagia e hematêmese. Massa abdominal foi o que chamou a atenção em 10% dos pacientes, que mais tarde 3,3% saberiam do diagnóstico de LB e 6,6% de LH. O enfraquecimento preocupou 6,6% dos pacientes, levando ao diagnóstico, mais tarde, de LH. A febre foi responsável pela descoberta de 13,3% dos pacientes com linfoma, sendo metade deles com LH e metade com LNH. Ao exame físico desta consulta foram encontradas as seguintes alterações: aumento de lifonodos em 63,3% dos pacientes, dos quais 33,3% mais tarde saberiam ser portadores de LH e 30% de LNH; em 23,3% dos pacientes foi encontrada massa abdominal palpável, e posteriormente 3,3% teriam diagnóstico de LNH, 10% de LH e 10% de LB; à hepatimetria encontrou-se aumento do tamanho do fígado em 30% dos pacientes, sendo 6,6% com LB, 10% com LH e 13,3% com LNH; o baço estava aumentado em número igual de pacientes com LH e LNH, totalizando 6,6%; 23,3% dos pacientes estavam descorados, sendo diagnosticado, mais tarde, que 3,3% teriam LL, 3,3% apresentariam LNH, 6,6% LB e 10% LH; a ausculta pulmonar estava diminuída em 10% dos pacientes, dos quais, posteriormente, 3,3% teriam o diagnóstico de LNH e 6,6% de LH; sibilos foram auscultados em um paciente (3,3%) com LL; a febre foi constatada em 6,6% dos pacientes, sendo todos com diagnóstico de LH. Apenas um paciente (3,3%) estava com lesões eritematosas com margens irregulares pelo corpo, com diagnóstico de LNH. Neste exame físico, 10% dos pacientes com diagnóstico futuro de LNH estavam sem alterações. Aspectos de imagem Em relação aos achados de imagem encontrados na TC de tórax e abdome e US de abdome total, realizadas em todos os 30 pacientes da amostra, eles foram os seguintes (Tabela 2): em 50% dos pacientes foi encontrada linfadenomegalia (Figura 1), sendo 16,6% com LNH, 30% com LH e 3,3% com LB. Em relação ao acometimento do baço, encontrou-se esplenomegalia em 33,3% dos pacientes (Figuras 4, 5 e 6), sendo 3,3% com LNH, 20% com LH e 10% com LB, e nódulo esplênico esteve presente em 6,6% dos pacientes, metade destes com LH e metade com LNH. Em número igual de pacientes com LH e LNH (6,6% de cada) foi encontrado derrame pleural (Figuras 4 e 7). Em nosso estudo, a hepatomegalia foi achado de imagem em 53,3% do total de pacientes, 23,3% com diagnóstico de LNH, 23,3% com LH e 6,6% com LB (Figuras 4, 5 e 6). Líquido livre na cavidade peritoneal foi encontrado em 6,6% dos pacientes com LNH. Um paciente com LNH (3,3%) estava com espessamento pleural ao exame tomográfico; nódulo pulmonar foi um dos achados em 10% dos pacientes, sendo um terço com LH e dois terços com LNH; também em 6,6% dos pacientes, porém com LH, observou-se infiltrado alveolar; em 10% dos pacientes foi detectada massa linfóide (Figura 8), sendo 3,3% com diagnóstico de LNH e 6,6% com LH. Em um paciente (3,3%) encontrou-se aumento homogêneo do timo, com diagnóstico de LH. Os exames de imagem abordados neste estudo mostraram que 13,3% dos pacientes 10% com LNH e 3,3% com LH não cursaram com nenhuma alteração.
DISCUSSÃO Aspectos clínicos O presente trabalho mostrou que o estudo de imagem foi mais sensível e de maior acurácia na detecção das alterações decorrentes de linfoma quando comparado ao exame clínico. Um motivo levantado que justifique essa parcial discrepância é o fato de o exame físico abordado neste estudo ter sido feito apenas no momento de admissão do paciente, e os exames tomográficos e ultra-sonográficos, ao revés, eram, além dos de admissão e diagnóstico, os de seguimento da doença. Aspectos de imagem O acometimento hepático foi o achado mais freqüente em nossa casuística. Dos 30 pacientes, 18 (60%) cursavam com hepatomegalia homogênea ou nódulo hepático sete (23,3%) com LH e 11 (36,6%) com LNH , porcentual compatível com o estudo de Levitan et al.(6), que revelou que o fígado é o lugar de envolvimento secundário em 60% dos pacientes com LH e 50% daqueles com LNH. Outro dado que foi compatível com a literatura foi a linfadenomegalia como achado de imagem em 50% dos pacientes estudados. Harris et al.(7) concluíram que o achado mais comum intratorácico do linfoma são os linfonodos mediastinais aumentados. O nosso estudo foi discordante de outros autores quanto ao acometimento esplênico. Na casuística de Thomas et al.(8), grande massa solitária esplênica foi o achado mais comum em pacientes com LNH, e no nosso trabalho o achado mais relevante foi a esplenomegalia homogênea, na maioria em pacientes com LH. Além disso, 16,6% dos pacientes deste estudo que tinham diagnóstico de LNH estavam com esplenomegalia, porcentagem bem abaixo da relatada por Harris et al.(7), que foi de 30%. Outro achado que discordou de outros autores(9) foi a timomegalia, relatada em 30% dos pacientes com linfoma, enquanto o presente trabalho revelou este achado em apenas um paciente com LH (3,3%).
CONCLUSÕES A TC não substitui nenhum dos procedimentos diagnósticos estabelecidos para o estadiamento do linfoma. No entanto, ela adiciona informações sobre a extensão da doença e pode alertar a equipe médica para possíveis outras anormalidades hepáticas e intra-abdominais que podem não ser avaliadas na laparotomia de rotina(5,10). Com o considerável aumento da sofisticação de métodos diagnósticos por imagem e o aumento do conhecimento dos radiologistas, o exame de TC passa a ter, com o passar dos anos, importante papel e indispensável significância para pacientes com linfoma.
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* Trabalho realizado no Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina de Marília, Marília, SP. |