ARTIGO ORIGINAL
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Autho(rs): Arquimedes Artur Zorzetto, Linei Augusta Brolini Dellê Urban, Christian Bark Liu, Olívia Russo Cruz, Maria Luiza Malfi Vitola, Yumi Awamura, Alessandra Bettega Nascimento |
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Descritores: Apendicite, Ultra-sonografia, Tomografia computadorizada |
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Resumo: Introdução A apendicite aguda é a causa mais comum de abdome agudo. Embora muitos pacientes apresentem quadro inicial clássico, alguns têm manifestações atípicas que dificultam o diagnóstico, particularmente gestantes e crianças(1).Em aproximadamente 35% dos casos a apendicite já está em fase adiantada, com perfuração e abscesso local, no momento da cirurgia(2). Igualmente inquietante é o fato de que 16% a 47% dos casos das laparotomias de emergência de um hospital geral são brancas, ou seja, acarretam a remoção de apêndices normais(3). Vários estudos foram feitos para aperfeiçoar os critérios e estabelecer o valor da ultra-sonografia na avaliação de pacientes com evidências duvidosas dessa doença, levando a uma diminuição do número de laparotomias negativas(4,5). Este estudo propôs-se a demonstrar os principais achados de imagem das diversas fases da apendicite, com o objetivo de auxiliar o ultra-sonografista no diagnóstico precoce desta afecção.
Materiais e métodos São relatados 14 casos de ultra-sonografias abdominais realizadas no período de janeiro a julho de 2001, em pacientes provenientes do Pronto Atendimento do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, que se apresentavam com quadro de dor abdominal difusa ou localizada na fossa ilíaca direita, além de hemograma infeccioso e radiografias simples com achados inespecíficos. O exame foi realizado inicialmente com transdutores de 3,5 MHz e complementado com transdutores de 7,5 MHz.
Resultados O estudo ultra-sonográfico demonstrou, nas fases iniciais, apêndice com diâmetro aumentado (76%) (Figura 1), não compressível (73%) (Figura 2), paredes espessadas (53%) (Figura 3), além de perda focal da definição das paredes (23%) (Figura 4) e pequena quantidade de líquido ao redor (47%) (Figuras 5 e 6). Em casos mais avançados, observaram-se formação de plastrão (15%) (Figura 7), liquefação (7%) (Figura 8) e formação de abscesso (5%) (Figura 9), além de ar dentro da coleção (1%) (Figura 10). Observou-se, ainda, apêndice complicado em uma gestante de 23 semanas (Figura 11), em uma criança com um ano e meio de idade (Figura 12) e em um caso na região retrocecal (Figura 13).
Discussão O apêndice normal raramente é visto, sendo observado principalmente nos casos de ascite ou conteúdo fecal espesso. Pode ser visualizado como um órgão tubular, com diâmetro menor que 6 mm e paredes estratificadas menores que 3 mm(1). A fisiopatologia da apendicite aguda inicia com a obstrução do lúmen apendicular, por material fecal ou apendicolito (visto em 35% dos casos)(6). As secreções mucosas aumentam a pressão intraluminal e comprometem o retorno venoso. A mucosa torna-se hipóxica e apresenta ulcerações. Sobrevém infecção bacteriana, culminando, por fim, em gangrena e perfuração. Ocorre então peritonite livre, podendo ser vistas coleções na pelve, flanco, regiões sub-hepáticas e subdiafragmáticas à direita, porém mais comumente observa-se abscesso encapsulado ao redor do apêndice, devido a bloqueio do processo pelo mesentério e alças da região(7). O diagnóstico ultra-sonográfico da apendicite aguda depende do estágio anatomopatológico desta. Na apendicite aguda simples o órgão conserva sua forma, porém apresenta-se edemaciado em toda a sua extensão. Os principais achados ultra-sonográficos são: apêndice não compressível com diâmetro transversal maior que 6 mm, paredes com espessura maior que 3 mm, ausência da camada ecogênica central (submucosa), ausência de gás no interior do apêndice, sendo este preenchido por líquido, presença de apendicolito, visível como uma imagem ecogênica com sombra acústica, independentemente do tamanho apendicular(7). Na fase da apendicite gangrenosa observa-se necrose localizada ou extensa da parede apendicular, às vezes com perfurações microscópicas. No exame por ultra-som podem ser observados espessamento irregular da parede do apêndice, pequenas coleções intraparietais, anecóicas ou ecogênicas, causadas por pequenos abscessos ou ar, ou ainda pequenas coleções periapendiculares(8). Na fase de apendicite francamente perfurada ocorre rompimento da parede com extravasamento do conteúdo para a cavidade abdominal, muitas vezes com destruição total do apêndice. Nesta fase, a sensibilidade do ultra-som diminui, porque não se visualiza mais o apêndice, mas apenas as alterações adjacentes, como massa periapendicular, coleções intra-abdominais ou adenopatia mesentérica. Os abscessos, forma mais comum de apresentação da perfuração, podem apresentar-se de formas variadas, desde imagens anecóicas semelhantes a cistos, até imagens complexas, mal definidas, acompanhadas de sombra acústica causada pelo ar em cavidade. Podem simular alças intestinais, com diferenciação através da observação dos "movimentos brownianos", característicos de alças intestinais(9). As principais dificuldades e fontes de erros no diagnóstico da apendicite são: exames de pobre qualidade técnica, com transdutores de baixa freqüência ou com profissionais não habilitados; exames incompletos, que podem levar à falsa impressão de apêndice normal quando, na verdade, a inflamação está confinada à sua ponta; a posição do apêndice também é causa de erros, particularmente quando é retrocecal; pacientes obesos e com distensão abdominal acentuada também podem levar a diagnóstico falso-negativo(10). Trabalhos recentes, visando ao diagnóstico de apendicite por ultra-sonografia, indicam sensibilidade do método entre 68% e 89%, especificidade entre 95% e 100%, com valor preditivo positivo entre 89% e 96% e valor preditivo negativo entre 76% e 96%, demonstrando ser a ultra-sonografia um excelente método diagnóstico nos casos de apendicite aguda e de suas complicações(11).
Referências 1.Puylaert JBCM. Acute appendicitis: US evaluation using graded compression. Radiology 1986;158:355 - 60. [ ] 2.Shaw RE. Appendix calculi and acute appendicitis. Br J Surg 1965;52:452 - 9. [ ] 3.Jeffrey RB Jr, Laing FC, Lewis FR. Acute appendicitis: high-resolution real- time US findings. Radiology 1987;163:11 - 4. [ ] 4.Dachman AH, Nichols JB, Patrick DH, Lichtenstein JE. Natural history of the obstructed rabbit appendix: observations with radiography, sonography, and computed tomography. AJR 1987;148:281 - 4. [ ] 5.Jeffrey RB Jr, Laing FC, Townsend RR. Acute appendicitis: sonographic criteria based on 250 cases. Radiology 1988;167:327 - 9. [ ] 6.Abu-Yousef MM, Bleicher JJ, Maher JW, Urdaneta LF, Franken EA Jr, Metcalf AM. High-resolution sonography of acute appendicitis. AJR 1987;149:53 - 8. [ ] 7.Rioux M. Sonographic detection of the normal and abnormal appendix. AJR 1992;158: 773 - 8. [ ] 8.Sheng PY. Apendicite aguda gangrenosa com abscesso. Rev Imagem 1986;8:61 - 2. [ ] 9.Borushok KF, Jeffrey RB Jr, Laing FC, Townsend RR. Sonographic diagnosis of perforation in patients with acute appendicitis. AJR 1990;154:275 - 8. [ ] 10.Lim HK, Lee WJ, Lee SJ, Namgung S, Lim JH. Focal appendicitis confined to the tip: diagnosis at US. Radiology 1996;200:799 - 801. [ ] 11.Birnbaum BA, Wilson SR. Appendicitis at the millenium. Radiology 2000;215:337 - 48. [ ]
Endereço para correspondência Recebido para publicação em 10/1/2002. Aceito, após revisão, em 11/11/2002.
Trabalho realizado no Serviço de Radiologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e na Cedip - Clínica de Diagnóstico por Imagem do Paraná, Curitiba, PR. |