EDUCAÇÃO EM RADIOLOGIA
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Autho(rs): Evandro Guimarães de Sousa, Hilton Augusto Koch |
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Descritores: Residência médica, Radiologia, Diagnóstico por imagem, Residente, Educação |
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Resumo:
A Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) determinou, em 2003, os critérios mínimos para o credenciamento de programas de Residência Médica em Radiologia e Diagnóstico por Imagem. De acordo com esses critérios, durante o período de três anos, o residente deve adquirir competências em radiologia geral e contrastada, ultra-sonografia, mamografia, tomografia computadorizada, densitometria óssea, ressonância magnética, radiologia intervencionista, técnicas de exames, urgências e emergências, desenvolvidas em um programa de treinamento que deve corresponder a, no mínimo, 80% do planejado a cada ano, complementado pelas atividades teórico-complementares, cuja carga horária pode oscilar entre 288 a 576 horas anuais. Essas atividades teóricas devem prever sessões anátomo-clínicas, discussão de artigos científicos, sessões clínico-radiológicas, cursos, palestras e seminários, além das discussões sobre temas de Bioética, Ética Médica, Metodologia científica, Epidemiologia e Bioestatística(1). Alguns programas dessa especialidade podem ainda oferecer, em um quarto ano opcional, treinamento nas áreas de atuação em angiorradiologia e cirurgia endovascular, ecografia vascular com Doppler, neurorradiologia, radiologia intervencionista e angiorradiologia(2). Diante dos constantes avanços científicos e tecnológicos e das atuais exigências do mundo do trabalho, é necessário, para assegurar o sucesso do futuro especialista em radiologia e diagnóstico por imagem, além do que lhes é oferecido tradicionalmente em programas de Residência Médica, a aquisição de novas competências e habilidades específicas que compõem o perfil do residente ideal, cujas principais características são as seguintes(3): ? Depois de cumprir a jornada de treinamento de 60 horas semanais, estipulada na legislação em vigor, o residente estará disponível para permanecer mais tempo no serviço enquanto puder desenvolver atividades interessantes para complementar a sua formação. ? Deve possuir um conhecimento diferenciado em relação aos demais, o que é caracterizado pela habilidade de selecionar o mais importante do seu saber e aplicá-lo na situação específica, demonstrando perfeito preparo para tal. ? Deve possuir habilidades técnicas superiores aos seus colegas, que lhe permitem desenvolver com propriedade tarefas tais como manipulação de um transdutor do ultra-som, obtenção de acesso vascular, realização de biópsias com visualização de imagem, além do competente uso de novas tecnologias, como sistema de informação e de comunicação em radiologia, arquivo de imagens e na otimização de imagens no computador. Deve apresentar um bom desempenho na obtenção de consentimento informado pelos clientes na interconsulta com médicos que solicitaram exames e no relacionamento com pacientes e seus familiares. ? É muito importante possuir espírito inquiridor, estudando assuntos relacionados ao seu treinamento, aprofundando seu conhecimento através de leitura e na busca de orientações a outros médicos, no sentido de aprender mais. Trabalhar com esse residente constitui uma gratificante experiência para o preceptor. Mesmo o mais experiente radiologista sente-se estimulado a continuar aprendendo e crescendo profissionalmente. ? Deve fazer dos erros cometidos parte do processo natural da aprendizagem e entender que uma postura de reconhecê-los e tentar aprender com eles o distinguirá de outros que, por constrangimento, os acobertam, prejudicando o paciente. ? Deve estar atento às expectativas do preceptor, professor ou outro membro do "staff", executando suas tarefas com disposição e presteza, ao mesmo tempo em que busca assegurar a qualidade no cumprimento dessas tarefas e adquire experiência profissional, através de estratégias que garantam o desenvolvimento de uma rotina mais tranqüila no serviço. ? Espera-se dos melhores residentes, daqueles destinados a exercer a liderança na profissão, a disposição para ajudar outros colegas, considerando-os muito menos como competidores e mais como auxiliares e a quem dão exemplo no cumprimento do horário estipulado e na permanência em serviço até o término de suas obrigações, as quais cumpre com rigor e competência. ? Além da expectativa de um brilhante nível técnico, algumas qualidades éticas e humanas devem fazer parte do caráter do residente ideal, como a honestidade, a capacidade de manter o sigilo das informações confidenciais declaradas pelos pacientes, generosidade no trato com seus pares, buscando estar sempre acessível para interação com outros profissionais da área da saúde e o público em geral(3,4). ? Deve aproveitar todas as oportunidades que lhe são oferecidas para pesquisar, participar de encontros que lhe permitam apresentar trabalhos, ministrar aulas, proferir palestras como voluntário e quaisquer outros procedimentos que ampliem seu aprendizado(5,6). ? Deve reconhecer que a principal missão do seu treinamento é oferecer um atendimento com qualidade para o paciente. Deve, também, estar ciente de que a atenção para a saúde requer a realização dos serviços dentro dos padrões estabelecidos de qualidade, respeitando os preceitos da Bioética e da Ética Médica, e tendo em conta que a responsabilidade dessa atenção não se encerra com o ato técnico, mas sim, com a resolução do problema detectado(6,7). ? Deve possuir competência para desenvolver a comunicação verbal e a não verbal, domínio da escrita e interpretação da leitura(6,8). ? Deve possuir a competência para gerenciar e administrar tanto a força de trabalho quanto os recursos físicos, materiais e de informação, devendo, portanto, exercer suas futuras atividades com espírito empreendedor e como gestor capaz de assumir a liderança de equipe de saúde(5,9). Para assegurar ao residente constante atualização em sua formação e possibilitar sua participação efetiva na prestação de serviços em saúde, é necessário que a Educação em Radiologia e Diagnóstico por Imagem seja revista periodicamente. Além das competências e habilidades relacionadas, outras deverão ser acrescentadas, como a capacidade de adaptar-se à evolução da especialidade, de lidar com problemas e tomar decisões em situações não familiares, de ser criativo e desenvolver espírito crítico, de estar apto para utilizar a medicina baseada em evidências científicas, de proceder à avaliação crítica de artigos científicos, de utilizar as várias formas de informação para a sua educação continuada, dentre outras(9,10). Os residentes em radiologia e diagnóstico por imagem devem ser encorajados a refletir sobre o propósito de seu treinamento, o que realmente desejam alcançar e como consegui-lo. Por outro lado, os preceptores devem rever os objetivos propostos para o programa, buscando incluir competências que complementem a formação dos residentes, além de auxiliá-los a encontrar mecanismos para adquiri-las.
REFERÊNCIAS 1.Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Superior. Comissão Nacional de Residência Médica. Resolução n° 4 de 2003. Dispõe sobre os requisitos mínimos para credenciamento de programas de Residência Médica e dá outras providências. Disponível em: <http://www.mec.gov.br/sesu/pdf/cnrm-042003.pdf>. Acessado em 1/10/2003. [ ] 2.Brasil. Conselho Federal de Medicina. Resolução n° 1.666 de 2003. Dispõe sobre o convênio de reconhecimento de especialidades médicas firmado entre o Conselho Federal de Medicina, a Associação Médica Brasileira e a Comissão Nacional de Residência Médica. Disponível em: <http://www. cfm.org.br>. Acessado em 1/10/2003. [ ] 3.Gunderman RB, Jackson VP. What makes a great radiology resident? Acad Radiol 2003;10:554-8. [ ] 4.Gunderman RB. A vital skill for radiology education. Acad Radiol 2001;8:651-5. [ ] 5.Harolds JA. Residents: be aggressive in your own education! Acad Radiol 1998;5:655-7. [ ] 6.Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Saúde. Resolução CNE n° 4 de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Nacionais Curriculares do Curso de Graduação em Medicina. Disponível em: <http://www.mec.gov.br>. Acessado em 26/6/2003. [ ] 7.Collins J. Curriculum in radiology for residents: what, why, how, when and where. Acad Radiol 2000;7:108-13. [ ] 8.McLoud TC. Education in radiology: challenges for the new millennium. AJR 2000;174:3-8. [ ] 9.Collins J, de Christenson MR, Gray L, et al. General competencies in radiology residency training: definitions, skills, education and assessment. Acad Radiol 2002;9:721-6. [ ] 10.Sluming V. Commentary: the changing world of radiography education. Br J Radiol 1996;69:489-90. [ ]
Endereço para correspondência Recebido para publicação em 22/8/2003. Aceito, após revisão, em 12/11/2003
* Trabalho realizado no Departamento de Radiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ. |