RELATO DE CASO
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Autho(rs): Evandro Miguelote Vianna, André Custódio de Mattos, Romeu Côrtes Domingues, Edson Marchiori |
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Descritores: Ressonância magnética, Lesão em alça de balde, Lesão meniscal, Joelho |
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Resumo: IIIProfessor Titular de Radiologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Coordenador Adjunto do Curso de Pós-Graduação em Radiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
INTRODUÇÃO As lesões meniscais podem ocorrer isoladas ou em associação com lesões ósseas ou ligamentares(1?10). Uma das lesões meniscais menos freqüentes é a lesão em alça de balde, que consiste em uma lesão vertical ou oblíqua com extensão longitudinal e deslocamento medial do fragmento, normalmente da parte central do menisco(1), cuja incidência varia de 9% a 24% dos casos(2?4). A lesão em alça de balde tem grande importância clínica, uma vez que o deslocamento de um fragmento do menisco pode provocar bloqueio articular, exigindo tratamento cirúrgico(1?8). Na literatura, encontramos apenas uma descrição de lesão em alça de balde com resolução espontânea(9). Neste trabalho é descrito o caso de um paciente que apresentou lesão em alça de balde do menisco medial no exame de ressonância magnética (RM). Após tratamento clínico, o exame de controle demonstrou que havia ocorrido resolução espontânea da lesão, sem intervenção cirúrgica.
RELATO DO CASO Paciente do sexo masculino, 32 anos de idade, queixando-se que torceu o joelho esquerdo durante jogo de futebol, sem trauma direto. Evoluiu com dor e edema imediatamente após o trauma. Ao exame clínico, o paciente apresentava dor medial à mobilização, bloqueio em extensão a 45° e sinal da gaveta negativo. No exame radiológico não havia alteração significativa. Realizada RM, dois dias após o trauma, que demonstrou lesão em alça de balde no menisco medial, com fragmento deslocado na incisura intercondilar (Figuras 1A, 1C e 1E). Não havia lesões ligamentares associadas. Após esses achados, foi indicado tratamento cirúrgico, que o paciente se recusou a fazer. Foi iniciado tratamento clínico e medicamentoso, à base de repouso e anti-inflamatórios. Apesar da prescrição médica, não foi realizada fisioterapia. Após um mês, iniciou-se regressão progressiva do bloqueio articular, permanecendo com leve dor na face medial do joelho. Com seis meses de evolução houve importante melhora clínica, sendo realizada nova RM, que demonstrou apenas uma pequena irregularidade no corno posterior do menisco medial, sem fragmento deslocado (Figuras 1B, 1D e 1F).
DISCUSSÃO A lesão em alça de balde é uma lesão vertical ou oblíqua, com extensão longitudinal e deslocamento medial do fragmento meniscal, acometendo mais freqüentemente o menisco medial, recebendo esta denominação porque o fragmento central separado assemelha-se à alça de um balde, e a porção periférica remanescente do menisco corresponderia ao balde(1). Estas lesões freqüentemente ocorrem em pacientes jovens, secundárias a traumatismo, e apresentam na RM alterações características. Os achados principais são: fragmento deslocado na incisura intercondilar, sinal do duplo cruzado posterior, sinal do duplo corno anterior, e ausência da configuração em gravata-borboleta do corpo do menisco(1?6). As lesões em alça de balde correspondem de 9% a 24% de todas as lesões meniscais(2?4). A identificação de fragmento meniscal deslocado é muito importante, pois esta condição necessita de tratamento cirúrgico, podendo ser realizado por via artroscópica ou convencional(1?8). Freqüentemente as lesões em alça de balde estão associadas às lesões do ligamento cruzado anterior, com incidências relatadas de 10% a 60%(4,5,9,10). Os pacientes podem apresentar bloqueio articular agudo ou intermitente. As lesões meniscais são a maior causa de bloqueio do joelho na prática clínica, especialmente as lesões em alça de balde. O diagnóstico diferencial inclui, entre outras condições, ruptura dos ligamentos cruzados, cistos nos ligamentos cruzados, corpos livres intra-articulares (osteocondrite dissecante, lesão osteocondral aguda, osteocondromatose sinovial, lesões penetrantes), sinovite nodular pigmentada e plicas(7). As lesões em alça de balde do menisco medial são de três a seis vezes mais freqüentes que as semelhantes no menisco lateral(1,4,5,8). Uma lesão em alça de balde efetivamente reduz a largura do menisco, e as imagens sagitais periféricas não demonstram a configuração em gravata-borboleta normal do corpo do menisco(2,3,5). O encurtamento do corno posterior do menisco medial sem história de meniscectomia prévia pode estar associado a lesão em alça de balde(1). Um fragmento do menisco deslocado quase sempre pode ser identificado na incisura intercondilar, entre o ligamento cruzado posterior e o platô tibial, em imagens coronais(1,8). O fragmento deslocado se apresenta nas imagens sagitais como uma faixa de hipossinal paralela e anterior ao ligamento cruzado posterior, caracterizando o sinal do duplo cruzado posterior(1,6). Pode, ainda, ser observado deslocamento do corno posterior, estando este posicionado anterior ou acima do corno anterior, caracterizando o sinal do duplo corno anterior(4,5). O menisco lateral também pode ser local de lesão em alça de balde. No entanto, aqui não se observa o sinal do duplo cruzado posterior nos pacientes com o ligamento cruzado anterior íntegro, o qual impede o deslocamento do fragmento meniscal(2?4). O sinal do duplo corno anterior é mais freqüentemente encontrado neste menisco(4,5). Brammer et al.(10) demonstraram um caso de lesão em alça de balde em ambos os meniscos, associada a lesão do ligamento cruzado anterior, estimando que este tipo de lesão meniscal ocorre em menos de 0,05% dos casos. A sensibilidade da RM para o diagnóstico de lesões em alça de balde, observando um ou mais dos quatro sinais descritos, é de até 97%, comparável à artroscopia. A sensibilidade varia de 27% a 44% para o sinal do duplo cruzado posterior, de 33% a 40% para o sinal do duplo corno anterior, de 60% a 94% para o fragmento deslocado para a incisura intercondilar, e de 71% a 97% para a ausência da configuração em gravata-borboleta. Em geral, estes sinais demonstram uma especificidade bem superior à sensibilidade relatada(2?5). Alguns autores acreditam que as lesões em alça de balde não visualizadas nos exames por RM e identificadas nas artroscopias ocorrem devido ao pequeno tamanho do fragmento meniscal deslocado. Porém, na maioria destes casos, verifica-se lesão do menisco no exame de RM(4,5). McAllister e Motamedi(9) descreveram um caso de cura espontânea de lesão em alça de balde do menisco lateral. Sugeriram que isto ocorreu porque a lesão era próxima da zona meniscal periférica, o que provavelmente possibilitou a cicatrização espontânea do menisco, devido à maior vascularização desta área. No caso do nosso paciente, a lesão em alça de balde ocorreu no menisco medial. Como no exame de RM de controle não foi visualizado o fragmento meniscal, estando este menisco de volume normal em relação ao exame anterior, e apresentando apenas pequeno sinal irregular no corno posterior, concluímos que tenha ocorrido resolução espontânea da lesão.
REFERÊNCIAS 1. Singson RD, Feldman F, Staron R, Kierman H. MR imaging of displaced bucket-handle tear of the medial meniscus. AJR 1991;156:121?4. [ ] 2. Watt AJ, Halliday T, Raby N. The value of the absent bow tie sign in MRI of bucket-handle tears. Clin Radiol 2000;55:622?6. [ ] 3. Helms CA, Laorr A, Cannon WD Jr. The absent bow tie sign in bucket-handlle tears of the menisci in the knee. AJR 1998;170:57?61. [ ] 4. Wright DH, De Smet AA, Noris M. Bucket-handle tears of the medial and lateral menisci of the knee: value of MR imaging in detecting displaced fragments. AJR 1995;165:621?5. [ ] 5. Magee TH, Hinson GW. MRI of meniscal bucked-handle tears. Skeletal Radiol 1998;27:495?9. [ ] 6. Weiss KL, Morehouse HT, Levy IM. Sagittal MR images of the knee: a low-signal band parallel to the posterior cruciate ligament caused by a displaced bucket-handle tear. AJR 1991;156:117?9. [ ] 7. Elliott JM, Tirman PFJ, Grainger AJ, Brown DH, Campbell RSD, Genant HK. MR appearances of the locked knee. Br J Radiol 2000;73:1120?6. [ ] 8. Filosto L, Lo Castro A, Sparacia G, Grinsanti M, Iovane A, Cardinale AE. Bucket-handle meniscal tears of the knee. Magnetic resonance findings. Radiol Med 1994;88:8?12. [ ] 9. McAllister DR, Motamedi AR. Spontaneous healing of a bucket-handle lateral meniscal tear in an anterior cruciate ligament-deficient knee. A case report. Am J Sports Med 2001;29:660?2. [ ] 10. Brammer H, Sover E, Erickson S, Stone J. Simultaneous identification of medial and lateral bucket-handle tears: the Jack and Jill lesion. AJR 1999; 173:860?1. [ ]
Endereço para correspondência Recebido para publicação em 27/5/2003
* Trabalho realizado na Clínica de Diagnóstico por Imagem ? CDPI, Rio de Janeiro, RJ. |