RELATO DE CASO
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Autho(rs): Flávio Augusto Ataliba Caldas, William Silva Neves, Jorge Antônio Thomé, Eliane Rosin Cassiano Martinez, Luciana Martins Tajara |
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Descritores: Hamartoma folículo-sebáceo cístico, Mama, Masculino, Revisão |
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Resumo: IIIMédicas Radiologistas do Ultra-X
INTRODUÇÃO Hamartoma folículo-sebáceo cístico (HFC) é uma rara lesão cutânea de elementos mesenquimais, sebáceos e foliculares(1). Os primeiros casos de HFC foram descritos em 1991 por Kimura et al.(2) , que determinaram os critérios clínicos e histopatológicos básicos desta lesão até então inédita na literatura. Até o momento foram relatados 17 casos de HFC, sendo que todos eram extra-epiteliais e se apresentavam como lesões grosseiramente verrucosas ou pedunculadas. Nosso relato traz um novo molde de apresentação dessa lesão incomum, desta vez simulando nódulo mamário.
RELATO DO CASO Paciente do sexo masculino, 35 anos de idade, branco, procurou este serviço para realização de mamografia e ultra-sonografia, com queixa de nodulação indolor há oito meses na mama esquerda evoluindo para leve incômodo nos últimos três meses. Negava doenças de base e uso de medicação. Ao exame físico foram observados assimetria mamária (sendo maior a mama esquerda) e nódulo palpável firme, móvel e indolor no quadrante superior medial da mama esquerda, sem derrame papilar ou qualquer alteração cutânea associada. Na mamografia em médio-lateral a 90° foi visualizado nódulo de média radiodensidade e com contornos lobulados, de localização retroareolar esquerda. O nódulo tinha aproximadamente 2,5 cm em seu maior eixo. Não foram observadas ginecomastia ou outras alterações mamárias associadas (Figura 1).
A ultra-sonografia revelou que a lesão retroareolar vista na mamografia tinha representatividade ecográfica como nódulo hipoecogênico e de contornos macrolobulados. A lesão apresentava fina cápsula ecogênica e tênue reforço acústico posterior, medindo cerca de 2,6 cm (Figura 2).
Foi realizada excisão cirúrgica do tumor, cujo exame anatomopatológico exibiu nódulo com lobulações e de coloração pardacenta, medindo cerca de 2,0 cm, e com conteúdo interno sólido-gelatinoso mostrando cisto folicular (Figura 3). As lâminas da histopatologia revelaram estrutura intradérmica com abundância de epitélio escamoso queratinizado com estrutura pilosa associada (Figura 4), preenchendo os critérios histológicos do HFC, segundo Yamamoto et al.(3) (Tabela 1).
DISCUSSÃO O HFC é um hamartoma distinto formado por elementos estromais e epiteliais que não deve ser confundido, histopatologicamente, com hiperplasia de glândula sebácea, esteatocitoma, cisto dermóide da pele ou tricufoliculoma sebáceo(13). O termo cístico refere-se a uma dilatação cística-símile do infundíbulo folicular. Ele não pode ser reconhecido clinicamente e depende do diagnóstico histopatológico(4). Sua manifestação comum ao exame físico é a de lesão cor de carne séssil ou de pápula pedunculada, mais comumente localizada na face, geralmente próxima ao nariz(1). Não há relatos desta lesão estar em localização intra-epidérmica, como no nosso caso, simulando nódulo mamário. Histologicamente, a mama masculina normal é composta de ductos subareolares similares àqueles encontrados em meninas pré-púberes(5,6). Assim, normalmente, todas as anormalidades encontradas na mama do homem são baseadas na etiopatogenia ductal. Quando estimulados, os ductos podem alongar-se e ramificar-se, dando origem, usualmente, à ginecomastia, lesão mais comum neste tipo de mama(1,7,8). Alguns fatores podem ser apontados como causais de tais alterações, incluindo estrogênios endógenos e exógenos ou substâncias com atividade estrogênica-símile (hormônio adrenocortical, digitálico e espironolactona)(1,3,7,8), cirrose alcoólica e carcinoma hepatocelular(5). Imagem da mama masculina A mamografia é o exame inicial de escolha para o homem com alteração mamária. O protocolo de radiografias em crânio-caudal e médio-lateral oblíqua deve ser substituído, nos homens, por uma única incidência caudo-cranial (ou crânio-caudal invertida), que mostra de maneira mais eficaz a mama afetada. Se o aumento for unilateral será difícil fazer o posicionamento da mama contralateral normal. A limitação fica restrita a pacientes com grande aumento abdominal por ascite ou obesidade(5). O aspecto mamográfico normal da mama masculina é de imagem radioluzente homogênea, determinada pela gordura, com algum tecido conectivo interlobular e ductos se estendendo do mamilo, sem os ligamentos de Cooper(7,9). Há considerável sobreposição de aspectos de imagens de lesões benignas e malignas na mama masculina(9). O câncer de mama masculina é raro, representando menos de 1% dos casos de câncer de mama e 1% a 1,5% dos cânceres em homens(5,710). Os achados de imagem são inespecíficos e menos claros do que em mulheres. Normalmente, são massas pequenas, ovaladas ou lobuladas, com contornos bem definidos, indefinidos ou, mais incomumente, espiculados e de localização retroareolar. Microcalcificações são raras em homens e calcificações grosseiras podem ser vistam em lesões benignas e malignas. Pode haver queixa de dor ou desconforto leve(911). Ultra-sonograficamente, os achados são de lesões hipoecóicas e heterogêneas localizadas na região subareolar, excêntricas ao mamilo. Normalmente, têm margens irregulares e indistintas com variação acústica posterior (desde sombra até reforço do feixe sonoro)(11).
CONCLUSÃO Lesões nodulares mamárias têm uma gama de diagnósticos diferenciais e etiologia nos quais os achados de imagem se sobrepõem e não definem critérios claros de benignidade e malignidade. A comunidade médica especializada deve estar familiarizada com os achados normais e patológicos da mama masculina e estar apta ao diagnóstico precoce, para que o paciente possa dispor de melhores resultados estético e prognóstico.
Agradecimento À Dra. Eliane Regina Bueno Garcia.
REFERÊNCIAS 1. Templeton SF. Folliculosebaceous cystic hamartoma: a clinical pathologic study. J Am Acad Dermatol 1996;34:7781. [ ] 2. Kimura T, Miyazawa H, Aoyagi T, Ackerman AB. Folliculosebaceous cystic hamartoma. A distinctive malformation of the skin. Am J Dermatopathol 1991;13:213220. [ ] 3. Yamamoto O, Suenaga Y, Bhawan J. Giant folliculosebaceous cystic hamartoma. J Cutan Pathol 1994;21:170172. [ ] 4. Ramdial PK, Chrystal V, Madaree A. Folliculosebaceous cystic hamartoma. Pathology 1998;30: 212214. [ ] 5. Chantra PK, So GJ, Wollman JS, Bassett LW. Mammography of the male breast. AJR 1995;164:853858. [ ] 6. Kopans DB. Mama masculina. In: Kopans DB, editor. Imagem da mama. 2ª ed. Rio de Janeiro, RJ: Medsi, 2000;497502. [ ] 7. Michels LG, Gold RH, Arndt RD. Radiography of gynecomastia and other disorders of the male breast. Radiology 1977;122:117122. [ ] 8. Dehner LP, Hill DA, Deschryver K. Pathology of the breast in children, adolescents, and young adults. Semin Diagn Pathol 1999;16:235247. [ ] 9. Appelbaum AH, Evans GFF, Levy KR, Amirkhan RH, Schumpert TD. Mammographic appearances of male breast disease. RadioGraphics 1999;19: 559568. [ ] 10. Ouimet-Oliva D, Hebert G, Ladouceur J. Radiographic characteristics of male breast cancer. Radiology 1978;129:3740. [ ] 11. Yang WT, Whitman GJ, Yuen EHY, Tse GM, Stelling CB. Sonographic features of primary breast cancer in men. AJR 2001;176:413416. [ ]
Endereço para correspondência: Recebido para publicação em 28/10/2004. Aceito, após revisão, em 16/2/2005.
* Trabalho realizado no Instituto de Radiodiagnóstico Rio Preto S/C Ltda Ultra-X, São José do Rio Preto, SP. |