ENSAIO ICONOGRÁFICO
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Autho(rs): Rogério D. Duarte, Ana Alice Furtado, André Lermen Jr., Lívia Borges, Ênio M. Carvalho, Heloise Zanelatto Neves, Dakir L. Duarte Filho, Dakir L. Duarte |
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Descritores: Lesões mamárias incomuns, Tumores benignos e malignos da mama, Mamografia, Ultra-sonografia mamária |
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Resumo: IIIRadiologista e Coordenador de Procedimentos Invasivos em Mama da Clínica Serdil, Membro Titular do CBR
INTRODUÇÃO As lesões mamárias incomuns podem representar um desafio diagnóstico, sendo importante para o radiologista estar familiarizado com o seu aspecto radiológico. Estas lesões incluem doenças sistêmicas (doença vascular do colágeno, vasculite, hiperparatireoidismo), tumores benignos (hamartoma, fibromatose, tumor de células granulares e tumor filóide), doenças malignas (linfoma, sarcoma, carcinossarcoma, carcinoma adenóide cístico) ou doenças metastáticas (melanoma, linfoma, sarcoma, carcinoma do pulmão, estômago, ovário e células renais), entre outras. O objetivo deste trabalho é demonstrar os aspectos radiológicos característicos das principais lesões mamárias incomuns. Analisamos, retrospectivamente, casos incomuns de lesões mamárias com e sem manifestação clínica, entre os quais hamartoma, lipoma retromamário, tumor filóide benigno e maligno, fibroadenoma atípico, ectasia ductal gigante, doença de Mondor, rabdomiossarcoma, carcinoma adenóide cístico e linfoma. Realizamos, em alguns destes casos, mamografia, ultra-sonografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética e investigação histológica.
DISCUSSÃO Tumores benignos Hamartoma: É uma proliferação benigna de tecido fibroso, glandular e gorduroso(1,2). Seu aspecto mamográfico típico é de um nódulo redondo ou ovóide, bem circunscrito, com densidade de tecidos moles e gordura, envolvido por uma fina pseudocápsula. Ecograficamente aparece como um nódulo heterogêneo, hipoecóico e/ou hiperecóico, ovóide ou como tecido glandular normal. A ecogenicidade do hamartoma será determinada pela quantidade de tecido predominante; se houver mais tecido gorduroso, o nódulo será mais hipoecóico, e se mais tecido fibroglandular, determinará hiperecogenicidade(3,4) (Figura 1).
Tumor filóide: É tumor raro (0,3%) de origem fibroepitelial, comumente manifestado por nódulo de crescimento rápido em mulheres de 30 a 50 anos de idade, podendo ser benigno ou maligno, este último mais freqüente em mulheres de idade avançada(5). À mamografia aparece como nódulo, ovóide ou lobulado, bem circunscrito, semelhante ao fibroadenoma, porém com maiores dimensões. Seu aspecto ecográfico típico é de nódulo sólido, hipoecóico, não homogêneo e bem circunscrito, podendo conter áreas císticas, que são altamente sugestivas. É muitas vezes indistinguível do fibroadenoma e não é possível diferenciar entre lesões benignas ou malignas(4) (Figuras 2 e 3).
Lipoma: Geralmente é assintomático e unilateral. Pode manifestar-se como nódulo palpável móvel. O padrão mamográfico é de nódulo hipodenso, exibindo cápsula de tecido fibroso. À ecografia apresenta-se como nódulo bem delimitado hipoecóico (mamas densas) ou hiperecóico quando se localiza superficialmente no tecido adiposo subcutâneo(3,6) (Figuras 4 e 5).
Doença de Mondor: Descrita em 1939 por Henri Mondor, é uma tromboflebite de veia mamária, que origina um cordão fibroso, às vezes em forma de contas de rosário, podendo ser assintomática ou causar dor(3,7). Em nossa casuística encontramos 4/100.000 (casos/mamografias). O padrão mamográfico é de estrutura tubular densa, que à ecografia mostra-se superficial e hipoecóica (Figura 6).
Síndrome de Poland: Descrita em 1841, como ausência do músculo peitoral maior. Atinge uma em cada 36.000 a 50.000 mulheres. Agenesia ou hipoplasia mamária são comuns nesta síndrome, assim como anormalidades do esqueleto torácico. A causa ainda é desconhecida. Em nossa casuística observamos 2/100.000 (casos/mamografias). A tomografia computadorizada e/ou a ultra-sonografia são necessárias para confirmar ausência do músculo peitoral maior (Figura 7).
Fibroadenoma atípico: Ocasionalmente, as calcificações precoces do fibroadenoma podem ser finas, irregulares e indistinguíveis do câncer, requerendo biópsia(7). A mamografia da mama direita mostrou, em quadrante superior externo, um grupo de microcalcificações compactas, heterogêneas e irregulares, suspeitas e classificada como BI-RADS 4. Foi realizada biópsia destas microcalcificações, cujo resultado foi de fibroadenoma calcificado (Figura 8).
Ectasia ductal gigante: A ductografia percutânea mostrou a presença de ductos dilatados, com defeito de enchimento que à ecografia corresponde a estruturas tubulares anecóicas com ecos internos com material viscoso à punção (Figura 9).
Tumores malignos primários Rabdomiossarcoma: Os sarcomas de mama representam cerca de 1% de todas as neoplasias da mama, e o rabdomiossarcoma é uma lesão extremamente rara, com poucos relatos na literatura, ocorrendo em adolescentes(2,8). Dispomos apenas da ecografia mamária em nosso único caso arquivado (Figura 10).
Linfoma: Raramente ocorre como tumor primário na mama, representando 0,1% a 0,5% de todos os tumores malignos da mama, sendo mais freqüentes os linfomas não-Hodgkin(7). Seu aspecto mamográfico é de um ou mais nódulos com margens circunscritas ou espiculadas, assimetria focal ou até mesmo como espessamento cutâneo(7). À ecografia apresenta-se como nódulos sólidos, únicos ou múltiplos, hipoecóicos, com margens bem definidas ou indistintas. As linfonodomegalias axilares, quando presentes, ajudam no diagnóstico(7,8) (Figura 11). Carcinoma adenóide cístico: Geralmente associado com as glândulas salivares, ocasionalmente estas lesões desenvolvem-se na mama. Representa processo indolente, raramente fatal. O diagnóstico é feito pela análise histológica e colorações especiais são utilizadas para revelar a mucina, associada aos pseudocistos encontrados no tumor(7). É quase impossível de caracterizar com a biópsia percutânea. Na histopatologia apresenta componente glandular (adenóide) e estroma ou a membrana basal e seus elementos, com distribuição heterogênea. A aparência mamográfica é variável(7) (Figura 12).
CONCLUSÃO Ainda que a avaliação histológica seja necessária na maioria das vezes para o diagnóstico definitivo de lesões mamárias incomuns, os métodos de imagem demonstraram ser úteis na detecção, caracterização e inclusive na elaboração diagnóstica destas lesões.
REFERÊNCIAS 1. Page DL, Simpson JF. Benign, high-risk, and premalignant lesions of the mamma. In: Bland KI, Copeland III EM, editors. The breast: comprehensive management of benign and malignant diseases. Philadelphia: WB Saunders, 1991;113?134. [ ] 2. Ribeiro LBC. Patologia mamária na infância e na adolescência. In: Dias EN, Caleffi M, Silva HMS, Figueira Filho ASS. Mastologia atual. Rio de Janeiro: Revinter, 1994;45?59. [ ] 3. Bauab SP. Radiologia dos processos benignos. In: Duarte DL. Radiologia da mama. Rio de Janeiro: Medsi, 1994;79?98. [ ] 4. Feder JM, Paredes ES, Hogge JP, Wilken JJ. Unusual breast lesions: radiologic-pathologic correlation. RadioGraphics 1999;19 Spec No:S11?26. [ ] 5. Kopans DB. Ultrasound and breast evaluation. In: Kopans DB, editor. Breast imaging. 2nd ed. Philadelphia: Lippincott-Raven, 1998;409?443. [ ] 6. Teubner J. Echomammography: technique and results. In: Friedrich M, Sickles EA, editors. Radiological diagnosis of breast diseases. New York: Springer, 1997;181?220. [ ] 7. Kopans DB. Pathologic, mammographic, and sonographic correlation. In: Kopans DB, editor. Breast imaging. 2nd ed. Philadelphia: Lippincott-Raven, 1998;511?615. [ ] 8. Heywang-Köbrunner SH, Schreer I, Dershaw DD. Other semi-malignant and malignant tumors. In: Heywang-Köbrunner SH, Dershaw DD, Schreer I, editors. Diagnostic breast imaging: mammography, sonography, magnetic resonance imaging, and interventional procedures. New York: Thieme, 1997;265?279. [ ]
Recebido para publicação em 28/10/2004. Aceito, após revisão, em 15/12/2004.
Endereço para correspondência: Dr. Rogério D. Duarte. Clínica Serdil. Rua São Luís, 96, Santana. Porto Alegre, RS, 90620-170. E-mail: rogerioduarte@serdil.com.br |