RELATO DE CASO
|
|
|
|
Autho(rs): Rafael Artigas Faucz, Rosângela Trova Hidalgo, Renato Schwansee Faucz |
|
Descritores: Doença de Mondor, Mamografia, Ultra-sonografia |
|
Resumo: IIIMédico Radiologista, Membro Titular do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), Chefe da Clínica Mamo Imagem
INTRODUÇÃO A doença de Mondor é uma afecção bastante incomum caracterizada por tromboflebite das veias superficiais da parede torácica. A mecanismo patogênico ainda é incerto, no entanto existem relatos na literatura que apontam, como possíveis causas, trauma direto, cirurgia, esforço muscular, biópsia, radiação, infecção e câncer de mama(1-6). O diagnóstico é, geralmente, clínico. Ocasionalmente, os achados de imagem estão presentes, explicando que os sintomas correspondem a uma veia superficial trombosada. Dessa forma, os achados de imagem podem ter importante contribuição no diagnóstico. Descrevemos dois casos de doença de Mondor, mostrando os achados mamográficos e ultra-sonográficos típicos desta enfermidade.
RELATO DOS CASOS Caso 1 Paciente C.F., 43 anos de idade, sexo feminino, branca, com queixa de dor progressiva na região lateral superior da mama direita, com aparecimento de cordão fino e duro longitudinal intracutâneo, retraindo parcialmente a pele. Ao exame físico, havia presença de cordão fibroso subcutâneo tracionando a pele, de sentido longitudinal radial, dicotomizado nas proximidades da aréola (Figura 1). A mamografia demonstrou segmento vascular mais calibroso, ectasiado, longitudinal, no quadrante superior externo (Figura 2). Foi orientado somente tratamento sintomático e houve remissão dos sintomas após 12 semanas, desaparecendo paulatinamente o cordão sensível observado na pele. Mamografia anual de controle (Figura 3) não mais evidenciou a dilatação venosa no quadrante superior externo. A ultra-sonografia simples mamária inicial não definiu dilatação vascular.
Caso 2 Paciente J.R., 33 anos de idade, sexo feminino, branca, queixava-se de dor intensa na mama direita lateralmente, associada à presença de retração da pele, onde existia cordão fino e resistente como "corda de violão". O exame físico confirmou cordão fibroso duro, longitudinal e de direção radial mamilar na região lateral de mama direita (Figura 4). A mamografia era normal. A ultra-sonografia visualizou vaso periférico retilíneo e de calibre aumentado naquela região (Figura 5). Tratamento sintomático determinou resolução dos sintomas após oito semanas.
DISCUSSÃO A primeira descrição da doença de Mondor foi feita em 1939 por um cirurgião francês, Henri Mondor, como sendo uma "angiite subcutânea" da mama(7). A principal característica é a presença de um cordão fibroso e espesso ocasionado pela formação de um trombo e conseqüente esclerose do vaso acometido(8). A doença afeta mais mulheres que homens, numa relação próxima de 10:1, e sua incidência é maior na faixa etária média de 43 anos(6). O quadrante superior externo é a região da mama mais freqüentemente acometida. Os vasos mais freqüentemente afetados são segmentos da veia tóraco-epigástrica, veia torácica lateral e veia epigástrica superior. Raramente, tributárias da veia jugular externa e veia mamária interna estão acometidas(3,5). Clinicamente, os principais sintomas são dor, aumento do volume mamário e retração da pele ao nível do vaso trombosado. Ao exame físico, os principais achados são um cordão fibroso ou massa palpáveis. Outros sintomas menos comuns são febre, equimose e inflamação da pele, além de casos assintomáticos(6). A mamografia é, geralmente, o primeiro exame a ser solicitado para pacientes com queixas sugestivas de tromboflebite superficial da mama, pois descarta a possibilidade de câncer não-palpável associado. Uma densidade tubular, dilatada, longa e superficial, dando um aspecto de contas de um rosário, é o principal achado indicativo da porção trombosada da veia(4). A ultra-sonografia é um método complementar que também pode ser útil no diagnóstico. Além disso, pode ser o primeiro exame a ser solicitado em casos de pacientes jovens que apresentam mastalgia. Uma imagem tubular, longa, hipoecóica, superficial e com ausência de fluxo sanguíneo ao estudo com Doppler colorido é o principal achado(5). A maior preocupação é a sua relação com carcinoma mamário, que chega até 12% dos casos(3). Acredita-se que esta correlação seja atribuída a uma compressão dos vasos superficiais da mama por tumor ou linfonodos metastáticos, resultando em estase(8). Assim, uma adequada avaliação mamográfica, sempre com correlação clínica, e um controle mamográfico após um ano são extremamente importantes para afastar a possibilidade de carcinoma mamário associado. A doença de Mondor é uma condição benigna e autolimitada, que é diagnosticada clinicamente. Pacientes são tratados conservadoramente com compressa quente local, antiinflamatórios e/ou analgésicos(5). Na maioria dos casos, os sintomas se resolvem em duas a seis semanas e o vaso trombosado palpável desaparece dentro de seis a sete meses. Acompanhamento mamográfico de um ano é recomendado para demonstrar a regressão da dilatação tubular ectasiada, significando que houve recanalização do vaso trombosado. Em ambos os casos, as pacientes ainda não tinham o diagnóstico firmado até a realização dos exames de imagem, enfatizando a importância do reconhecimento pelos radiologistas desta doença incomum.
REFERÊNCIAS 1. Haagensen CD. Diseases of the breast. 3rd ed. Philadelphia: WB Saunders, 1986:379-82. [ ] 2. Kikano GE, Caceres VM, Sebas JA. Superficial thrombophlebitis of the anterior chest wall (Mondor's disease). J Fam Pract 1991;33:643-4. [ ] 3. Catania S, Zurrida S, Veronesi P, Galimberti V, Bono A, Pluchinotta A. Mondor's disease and breast cancer. Cancer 1992;69:2267-70. [ ] 4. Conant EF, Wilkes AN, Mendelson EB, Feig SA. Superficial thrombophlebites of the breast (Mondor's disease): mammographic findings. AJR 1993; 160:1201-3. [ ] 5. Shetty MK, Watson AB. Mondor's disease of the breast: sonographic and mammographic findings. AJR 2001;177:893-6. [ ] 6. Becker L, McCurdy LI, Taves DH. Superficial thrombophlebitis of the breast (Mondor's disease). Can Assoc Radiol J 2001;52:193-5. [ ] 7. Mondor H. Tronculite sous-cutaneé subaiguë de la paroi thoracique antéro-latérale. Mem Acad Chir 1939;65:1271-8. [ ] 8. Ingram DM, Sheiner HJ, Ginsberg AM. Mondor's disease of the breast resulting from jellyfish sting. Med J Aust 1992;157:836-7. [ ]
Endereço para correspondência Recebido para publicação em 14/5/2004. Aceito, após revisão, em 22/6/2004.
*Trabalho realizado na Mamo Imagem: Clínica de Diagnóstico por Imagem, Curitiba, PR. |