ARTIGO ORIGINAL
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Autho(rs): Tiago Alves de Brito Zan, Fabrício Corrêa de França, Marcos Pontes Muniz, José Antônio Cordeiro, Aldenis Albenese Borim, Patrícia Maluf Cury |
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Descritores: Câncer do esôfago, Pulmão, Tabagismo, Metástase |
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Resumo: IIIMédico, Professor do Serviço de Radiologia da Funfarme/Famerp
INTRODUÇÃO Os tumores malignos do esôfago são mais comuns em negros do que em brancos, em homens do que em mulheres e aparecem mais freqüentemente depois dos 50 anos de idade(1). Estão entre os mais sombrios dos tumores viscerais, devido aos sintomas pouco expressivos e ao seu estágio avançado na época do diagnóstico(2,3), pertencendo a maioria ao estágio TNM III(4,5). Apresentam comportamento biológico agressivo, com infiltração local, comprometendo linfonodos mediastinais, supraclaviculares, celíacos e cervicais(6). Na maioria dos casos esses tumores se estendem para fora da parede esofágica, pois a ausência da serosa favorece a extensão(1). Desse modo, existe o comprometimento direto de estruturas torácicas, principalmente pulmões(7), traquéia e árvore brônquica(8-10), aorta, nervo laríngeo recorrente esquerdo, e também extratorácicas, como o cérebro e outros órgãos(11). O carcinoma de células escamosas (com incidência maior que 85%) e o adenocarcinoma são os tipos mais freqüentes de carcinomas esofágicos(1,3,12,13) e estão relacionados com o consumo de álcool e tabaco, além de outras causas(14-17). O tabaco é descrito como um dos fatores envolvidos na gênese dos tumores malignos do esôfago e também está intimamente relacionado à neoplasia pulmonar. Nos casos de neoplasia pulmonar, os tipos freqüentemente relacionados são o carcinoma epidermóide e o carcinoma de pequenas células ("oat cell")(18). As alterações pulmonares comumente observadas nos exames de imagem do tórax de pacientes com neoplasias são pneumonite, enfisemas parasseptal e centrolobular, derrame pleural, abscesso pulmonar(6) e nodulações(18-20). Os sintomas podem corresponder tanto à presença direta do carcinoma esofágico, comprometendo o pulmão, como também pelo tabaco, que pode ocasionar alterações pulmonares como neoplasia primária pulmonar, maior incidência de infecções respiratórias, e também o enfisema e alterações intersticiais (os quais podem limitar o prognóstico diante de uma diminuição da reserva cardiopulmonar destes pacientes)(21,22).
MATERIAIS E MÉTODOS Estudo transversal tipo série de casos, no qual foram analisados prontuários e exames de imagem, tomografias computadorizadas (TC) e radiografias (raios-X) de 55 pacientes com câncer de esôfago. O período estudado foi de janeiro de 1998 a agosto de 2001. Foram comparadas a freqüência dos tumores encontrados e as alterações pulmonares em dois grupos de pacientes: tabagistas e não tabagistas. De acordo com o protocolo do serviço, foram realizados broncoscopias e lavados broncoalveolares na maioria dos casos.
RESULTADOS Dos 55 pacientes estudados, 46 eram do sexo masculino (84%) e nove eram do sexo feminino (16%). Em relação ao fumo, 48 eram tabagistas (87%) e sete eram não tabagistas (13%). Quanto ao tipo histológico de câncer de esôfago, o mais freqüente foi o carcinoma espinocelular, presente em 46 indivíduos (83%). Sete pacientes (13%) apresentaram adenocarcinoma e um paciente (2%), carcinoma de pequenas células. Em um outro paciente (2%) foi diagnosticado linfoma não-Hodgkin através da realização da imuno-histoquímica em fragmentos da peça cirúrgica. Entre os tabagistas, a lesão esofágica mais freqüente foi o carcinoma espinocelular, em 43 pacientes (90%). Em quatro pacientes (8%) foi diagnosticado o adenocarcinoma e em um (2%), carcinoma de pequenas células. Entre os não tabagistas, as formas espinocelular e adenocarcinoma ocorreram, respectivamente, em três pacientes cada, com freqüência aproximada de 43% para ambas as formas. Um paciente (14%) apresentou linfoma não-Hodgkin. Em nenhum dos não tabagistas foi realizada broncoscopia com lavado broncoalveolar, ao passo que entre os tabagistas, em 35 (73%) foi possível realizá-la. Dentre esses, nove (26%) apresentaram lavado positivo para células neoplásicas e 26 (74%) eram negativos. A prevalência de alguma alteração pulmonar nos pacientes com câncer de esôfago, baseada na análise dos raios-X e das TC do tórax, foi de 67%. No grupo dos tabagistas as alterações pulmonares verificadas foram: 27 (56%) dos pacientes apresentaram enfisemas parasseptal e centrolobular (Figura 1); seis (12%), bolhas (Figura 2); 12 (25%), espessamento intersticial peribroncovascular; sete (15%), derrame pleural (Figura 3); seis (12%), pneumonias (Figura 4); e seis (12%), metástases (Figuras 5, 6 e 7).
Entre os não tabagistas não se evidenciaram as alterações descritas acima. A freqüência de alterações pulmonares, independente da presença ou não de metástases, foi maior entre os indivíduos tabagistas do que entre os não tabagistas (73% e 29%, respectivamente; p = 0,03) (Gráfico 1).
DISCUSSÃO A prevalência das alterações pulmonares nos pacientes com câncer esofágico, independente da presença ou ausência de metástases pulmonares, foi maior entre os tabagistas, reforçando a relação do tabagismo com doenças nos pulmões. Apesar de nove tabagistas terem apresentado lavados broncoalveolares positivos para células neoplásicas, apenas quatro deles tinham metástases pulmonares aos exames de imagem. Sessenta e sete por cento dos pacientes com câncer esofágico apresentaram alguma alteração pulmonar aos raios-X e às TC de tórax. Considerando esses resultados, a avaliação pulmonar e a continuidade do estudo se mostram relevantes. Ambas contribuem para uma melhor abordagem terapêutica, minimizando, assim, os impactos que acometimentos do sistema respiratório promovem sobre o prognóstico desses pacientes.
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Endereço para correspondência Recebido para publicação em 12/8/2003. Aceito, após revisão, em 3/3/2004.
* Trabalho realizado na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp)/Hospital de Base - Fundação Faculdade Regional de Medicina de São José do Rio Preto (Funfarme), São José do Rio Preto, SP. |