EDITORIAL
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Autho(rs): Ayrton Roberto Pastore |
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O seu diagnóstico é realizado de modo simples pelo teste de Coombs, por análise do sangue materno. No entanto, trata-se de um teste inespecífico com a detecção da imunoglobulina antieritrocitária. O teste mostra sensibilização a partir de títulos iguais ou acima de 1/16, mas tem sensibilidade de apenas 65% para detectar fetos com anemia grave, mais freqüentes com títulos a partir de 1/128. O diagnóstico da anemia fetal é de fundamental importância, em decorrência da alta mortalidade dos fetos. Assim, o acompanhamento desses fetos comprometidos tem sido feito através da espectrofotometria do líquido amniótico, a partir dos estudos de Liley em 1961(1). No período de 1980 a 2000, o acompanhamento das gestantes sensibilizadas pelo fato Rh com a espectrofotometria do líquido amniótico foi fundamental para o diagnóstico e a retirada dos conceptos comprometidos pela doença. A partir da década de 1980, a ultra-sonografia tornou-se obrigatória no acompanhamento das gestantes com fetos sensibilizados, por viabilizar o diagnóstico e orientar a cordocentese no diagnóstico da anemia fetal, assim como o tratamento por meio da transfusão intra-uterina. A primeira cordocentese, realizada por Daffos et al. em 1983(2), foi para muitos o marco histórico da medicina fetal. A detecção dos fluxos sanguíneos nos diversos compartimentos fetais, de forma especial no território da artéria cerebral média, na avaliação da vitalidade fetal tem sido empregada desde 1987 por Wladimiroff et al.(3), por meio dos estudos dopplervelocimétricos. A vitalidade fetal passou a ser analisada de melhor maneira, com amplos conhecimentos das bases fisiopatológicas que envolvem a instalação da hipóxia e o fenômeno da centralização cerebral fetal. A DHPN apresenta um estado hiperdinâmico do fluxo sanguíneo fetal na anemia, com o aumento do pico da velocidade sistólica nos territórios da aorta descendente e da artéria cerebral média(4). A dopplervelocimetria, por ser método não-invasivo e de fácil realização, tornou-se a principal ferramenta na propedêutica desses fetos comprometidos. No nosso meio, Nardozza (2005)(5) mostrou as vantagens do emprego da dopplervelocimetria sobre a espectrofotometria do líquido amniótico no diagnóstico da anemia fetal nas gestantes sensibilizadas pelo fator Rh. A dopplervelocimetria da artéria cerebral média detectou a anemia fetal nos estágios iniciais, quando o feto apresenta melhor prognóstico e as alterações ultra-sonográficas são menos evidentes, ao passo que a espectrofotometria do líquido amniótico, quando alterada, mostrou o feto com anemia acentuada, sinais de hidropisia com alterações ultra-sonográficas evidentes (o dobro, comparada à dopplervelocimetria). A dopplervelocimetria da artéria cerebral média e da aorta descendente fetal no diagnóstico da anemia fetal nas pacientes sensibilizadas pelo fator Rh, sem dúvida, é um grande divisor de águas, a ponto de não mais se realizar a espectrofotometria do líquido amniótico no acompanhamento dessas gestantes no Setor de Doença Hemolítica Perinatal do Departamento de Obstetrícia da Escola Paulista de Medicina-Universidade Federal de São Paulo.
REFERÊNCIAS 1. Liley AW. Liquor amnii analysis in the management of pregnancy complicated by rhesus sensitization. Am J Obstet Gynecol 1961; 82:1359-1370. 2. Daffos F, Cappella-Pavlovisky M, Forestier F. A new procedure for fetal blood sampling in utero: preliminary results of fifty-three cases. Am J Obstet Gynecol 1983;146:985-987. 3. Wladimiroff JW, van der Wijngaard JAGW, Degani S, Noordam MJ, van Eyck J, Tongue HM. Cerebral and umbilical arterial blood flow velocity waveforms in normal and growth retarded pregnancies. Obstet Gynecol 1987;69:705-709. 4. Mari G, Adrignolo A, Abuhamad AZ, Pirhonen J, Jones DC, Ludomirshy A, Copel JA. Diagnosis of fetal anemia with Doppler ultrasound in the pregnancy complicated by maternal blood group immunization. Ultrasound Obstet Gynecol 1995;5:400-405. 5. Nardozza LM, Camano L, Moron AF, da Silva Pares DB, Chinen PA, Torloni MR. Pregnancy outcome for Rh-alloimmunized women. Int J Gynaecol Obstet 2005;90:103-106. |