EDITORIAL
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Autho(rs): Daniel Nóbrega da Costa |
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Desde os anos 80, quando a ressonância magnética (RM) começou a ganhar espaço na prática médica, esta nova modalidade trouxe consigo peculiaridades que asseguraram seu espaço no mundo radiológico. Quase sempre defrontada com a tomografia computadorizada que tem como grandes qualidades a eficiência (exames rápidos e com bastante informação útil) e consistência (poder ser utilizada em pacientes pouco colaborativos e com equipamentos de operação menos complexa, o que resulta em exames menos vulneráveis a dificuldades técnicas), características que a elevam ao posto de principal concorrente da RM entre os métodos de imagem seccional , a RM se destaca pela capacidade de diferenciar tecidos como nenhuma outra modalidade. Nesse contexto, o estudo das lesões hepáticas focais merece atenção especial. Seja em indivíduos assintomáticos, como um achado incidental, seja em pessoas com antecedentes clínicos relevantes (ex.: neoplasia maligna conhecida, hepatopatia crônica, etc.), a caracterização de lesões hepáticas focais é tão crucial quanto a detecção, já que a natureza da lesão orientará a conduta a ser tomada. Dentro do amplo espectro de lesões que fazem parte do diagnóstico diferencial das lesões hepáticas focais, os cistos e hemangiomas respondem por um número significativo dos casos. Embora se possa questionar qual a utilidade prática da diferenciação entre duas entidades benignas, principalmente quando se trata de lesão pequena sem potencial para complicações de outra natureza, qualquer estudo que valide a capacidade do método de oferecer informações sobre a natureza tecidual deve ser encarada positivamente. Este fato ganha força num cenário em que a segurança dos meios de contraste paramagnéticos está em cheque, exigindo um esforço e atenção da comunidade radiológica para otimizar e extrair o máximo possível de informação a partir de exames sem a utilização desses agentes. Enquanto alguns grupos pesquisam novas abordagens, como a utilização de novos meios de contraste (como o óxido de ferro superparamagnético) ou de seqüências de pulso alternativas (como a difusão e a espectroscopia), há investigadores que buscam reavaliar a acurácia diagnóstica e otimizar o emprego de seqüências já conhecidas e amplamente usadas. Este é o caso do artigo publicado neste número da RB, no qual os autores desenharam uma investigação prospectiva observacional que demonstrou a utilidade da seqüência B-FFE na rotina de avaliação hepática por RM, especificamente no que diz respeito à distinção entre cistos e hemangiomas. Como apontado pelos autores, vantagens desta seqüência de pulso incluem o tempo de aquisição reduzido e a imunidade aos artefatos de movimentação. O estudo mostra, ainda, que não é necessária uma curva prolongada para o aprendizado da interpretação destes achados, com ótima concordância intra- e interobservador, aspectos bastante positivos em qualquer estudo. Por outro lado, vale ressaltar que pacientes com antecedente de neoplasia maligna um subgrupo no qual se espera grande benefício na caracterização das lesões hepáticas focais foram excluídos da amostra. Outro ponto que deve ser lembrado é a natureza subjetiva da avaliação das lesões, uma forma comumente empregada na prática clínica mas que pode suscitar crítica no ambiente científico, amenizado em parte pela grande concordância intra- e interobservador já citada. Enquanto diversas estratégias buscam uma maior eficiência no fluxo de trabalho do radiologista, um tópico que merece atenção é o fato de a maioria dos estudos que florescem na literatura sugerirem o acréscimo de seqüências de pulso nos protocolos utilizados, em vez da substituição de seqüências já utilizadas por outras mais eficientes, resultando em exames que demoram mais para serem realizados (maior número de seqüências) e interpretados (maior número de imagens). Baseado nesses pontos, pode-se concluir que novos estudos serão úteis para validar os achados importantes publicados neste artigo e, possivelmente, avançar no diagnóstico diferencial com maior impacto clínico: a avaliação da agressividade das lesões (indo além do tradicional benigno versus maligno, especulando sobre quão maligna é uma lesão em particular) e a identificação de sinais radiológicos que permitam apontar uma estratégia terapêutica com maior eficácia para cada situação (indicando para oncologistas com pacientes que apresentam metástases hepáticas, por exemplo, qual a perspectiva de resposta de uma lesão específica a drogas de um determinado grupo farmacológico). |