CARTAS AO EDITOR
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Autho(rs): Décio Roveda Júnior1; Gustavo Machado Badan1; Mário Sérgio Dantas do Amaral Campos1; Bianca Maragno1; Laís Bastos Pessanha2 |
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Sr. Editor,
Paciente adolescente, sexo feminino, 17 anos de idade, negra, apresentou queixa de nódulos palpáveis em ambas as mamas. Há cinco meses notou crescimento abrupto, sendo solicitados exames de ultrassonografia (Figura 1) e ressonância magnética (Figura 2). Devido ao crescimento das lesões em curto espaço de tempo, foi solicitada biópsia por agulha grossa (core biopsy) orientada por ultrassonografia para melhor avaliação diagnóstica (Figura 3). Figura 1. Ultrassonografia mostrando nódulos ovais e circunscritos, hipoecoicos, maior eixo paralelo à pele, sugerindo lesões de natureza provavelmente benigna. Figura 2. Ressonância magnética identificando as lesões com a mesma morfologia descrita na ultrassonografia, apresentando hipossinal/isossinal em T2 em todas as lesões, bem como realce tardio e progressivo após administração do meio de contraste paramagnético na sequência T1 com subtração do primeiro (A) ao quarto minuto (B). Figura 3. Imagem de microscopia eletrônica demonstrando lóbulos imaturos, ductos em fendas e proliferação de células mioepiteliais e estromais, achados estes compatíveis com fibroadenoma juvenil. A maioria das condições clínicas que cursam com aumento das mamas ou nódulos mamários em adolescentes e crianças é de caráter benigno. O aumento mamário unilateral está mais comumente relacionado ao desenvolvimento anormal das mamas, enquanto o aparecimento de nódulos está mais relacionado ao fibroadenoma. Eles apresentam baixo risco de malignização, são hormônio-dependentes e podem diminuir de tamanho após a menopausa(1). O fibroadenoma juvenil (ou celular) é um subtipo histológico que apresenta crescimento acelerado (7% a 8% de todos os subtipos), tendo predileção por meninas negras(2,3). Cerca de 10% a 25% das pacientes têm tumores múltiplos ou bilaterais ao diagnóstico, tal como o caso apresentado. Seu comportamento biológico é de lesão de crescimento acelerado comprometendo a mama, podendo haver ulceração de pele e distensão venosa superficial(3,4). O exame de ultrassonografia é a principal ferramenta na investigação diagnóstica de lesões mamárias em pacientes jovens, sendo bastante sensível na detecção e acompanhamento dos fibroadenomas. Eles apresentam uma aparência típica na grande maioria dos casos: nódulo oval, circunscrito, hipoecoico, com maior eixo paralelo à pele, podendo ou não apresentar vascularização ao estudo Doppler. Em pacientes mais velhas podem apresentar degeneração cálcica ou necrótica, que podem simular lesões agressivas(5). Na ressonância magnética podem apresentar comportamento variado. Na grande maioria das vezes são lesões que se comportam com hipossinal/isossinal em T2, septações internas e padrão de realce tipo I (curva ascendente progressiva), tipo II (curva em "platô") ou ausente, após administração do meio de contraste intravenoso paramagnético(6). O principal diagnóstico diferencial a ser considerado é o tumor phyllodes, que pode ser de natureza maligna ou benigna, sendo fundamental a diferenciação por biópsia com análise histológica. Fibroadenomas gigantes e tumor phyllodes podem ser indistinguíveis pelos métodos de imagem(2–4). O conhecimento da história clínica, associado às características identificadas pelos métodos de imagem e a correlação histológica diante de modificações morfológicas ou crescimento maior que 20% dos nódulos em curto prazo de tempo, oferecem as ferramentas necessárias para que o radiologista e o médico assistente orientem adequadamente o manejo desses casos. REFERÊNCIAS 1. Medeiros MM, Graziano L, de Souza JA, et al. Lesões hiperecogênicas na mama: correlação anatomopatológica e diagnósticos diferenciais à ultrassonografia. Radiol Bras. 2016;49:43–8. 2. Chung EM, Cube R, Hall GJ, et al. Breast masses in children and adolescents: radiologic-pathologic correlation. Radiographics. 2009;29:907–31. 3. Goel NB, Knight TE, Pandey S, et al. Fibrous lesions of the breast: imaging-pathologic correlation. Radiographics. 2005;25:1547–59. 4. Greydanus DE, Matytsina L, Gains M. Breast disorders in children and adolescents. Prim Care. 2006;33:455–502. 5. Kim SJ, Park YM, Jung SJ, et al. Sonographic appearances of juvenile fibroadenoma of the breast. J Ultrasound Med. 2014;33:1879–84. 6. Hochman MG, Orel SG, Powell CM, et al. Fibroadenomas: MR imaging appearances with radiologic-histopathologic correlation. Radiology. 1997;204:123–9. 1. Santa Casa de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil 2. Faculdade de Medicina de Campos (FMC), Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil Endereço para correspondência: Dra. Laís Bastos Pessanha Rua Primeiro de Maio, 79, Centro Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil, 28035-145 E-mail: laispessanha@hotmail.com |